CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

Locais e ambientes, pessoas e costumes, histórias, curiosidades e acontecimentos.

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domingo, março 25, 2007

INSTANTÂNEOS (14)

► O roubo de cobre no Brasil, em fiação e outros suportes, atingiu em 2006 o valor de 14 milhões de reais (mais de 5 milhões de euros). Um dos ladrões é um grande empresário brasileiro. Preso e, logo a seguir, solto pela Justiça (?), agora é foragido.
Assim vai parte significativa do ramo empresarial e grande parte da Justiça que disto só tem mesmo o nome.
► Na sequência de uma greve de transportes colectivos em Belo-Horizonte (capital do estado de Minas Gerais) em que os motoristas furaram os pneus e quebraram os bicos de enchimento dos carros que se encontravam na linha de saída, populares enfurecidos depredaram 32 veículos.
► Os dois juízes que condenaram agentes da polícia integrantes de uma quadrilha foram ameaçados de morte. Um outro juiz (52 anos), presidente da Associação de magistrados do Estado de Alagoas, que determinara protecção policial para aqueles dois, foi raptado na porta da igreja onde acabara de participar numa cerimónia religiosa.
► No Rio de Janeiro, perto da meia-noite e meia, bandidos incendiaram três carros da polícia na garagem do respectivo quartel. Os polícias estavam de cochilo ou de conluio?
►Também no Rio de Janeiro, homens armados distribuídos por três automóveis esperaram à porta de uma escola pelo intervalo e, então, abriram fogo. Morreu um estudante e cinco ficaram feridos.
Noutra escola da mesma cidade, quatro jovens foram encontrados mortos.
A Polícia diz que ambos os casos se identificam com retaliações por perda de pontos de venda de droga.
► Ainda no Rio, desde o início do ano já foram assassinados 27 agentes de Polícia.
► Numa das grandes avenidas de São Paulo, pelas 22 horas, um casal e um filho de três anos foram alvo de vários disparos policiais por terem um carro da cor de um outro que a Polícia procurava. Por sorte ninguém ficou ferido. O casal, com medo de represálias, não apresentou queixa às autoridades (que autoridades...).
► O presidente Luís Inácio Lula da Silva disse em cerimónia pública haver uma grande contradição brasileira: o Brasil, disse ele, possui tecnologia para colocar em órbita um satélite, em parceria com a China; mas não consegue acabar com as desigualdades sociais.
Ó presidente Lula: e se o senhor se deixasse de "besteiras", como se diz na sua terra?... Este Lula é um pândego...
► Noutra sessão pública, o presidente Lula disse estar muito preocupado com o ensino no Brasil, que considera "um dos piores do mundo".
► Um avião de pequeno porte, transportando 5,5 milhões de reais (2 milhões de euros) caiu numa aldeia do estado da Bahia. Dos destroços apenas foram recuperados 500 mil reais (185 mil euros). Entrtanto, os habitantes debandaram da povoação, porque começaram a aparcer faldos polícias, de cacete em punho, zurzindo o povo, para saber onde se encontrava a "grana" (como diz o brasileiro, isto só lá vai na base do cacete, e entenda-se como se quiser). Não foi questionado donde provinha e para onde ia o avião, nem donde provinha e para onde ia tamanha verba...
► Segundo um relatório recente da ONU divulgado pela Comunicação Social, 71% dos brasileiros situam-se na faixa de pobreza (com rendimento anual inferior a 3000 dólares). Isto condiz com os dados de pior crescimento económico da América Latina (exceptuando o Haiti que está em guerra civil) e com a pior distribuição de riqueza do mundo (exceptuando a Serra Leoa, um país dos confins da África que alimentou até há pouco uma guerra civil de 10 anos).
No entanto o Brasil preocupa-se em colocar satélites em órbita.
► O roubo de arte sacra atinge tais proporções no Brasil que asa autoridades se viram obrigadas a pedir auxílio à Interpol.
► O Brasil regista 9 milhões de desempregados (mas estes números pecam por defeito e por distorção das estatísticas, principalmente se se considerar o trabalho informal que representa cerca de metade da força de trabalho).
► Uma quadrilha internacional composta por quatro ou cinco elementos operava em 15 hoteis de luxo de São Paulo. Passando sem qualquer impedimento pelos átrios dos hoteis, assaltava os quartos cujos hóspedes tinam saído por algum tempo.
Estranho: homens desconhecidos, em grupo, entram e saem à vontade, sabem quais os quartos que podem ser assaltados... Onde acaba o habitual descuido brasileiro e começa a cumplicidade? Ou haverá só cumplicidade?
Alerta, turistas do Brasil, alerta!...
► Todos os meses em São Paulo, a maior cidade brasileira e uma das maiores da América Latina, são perdidas ou roubadas 11 mil carteiras de documentos. Por incompetência judiciária, algumas das vítimas acabam por ser presas, acusadas de crimes que nunca cometeram, porque os seus documentos foram parar em mãos sujas.
► As verbas para a saúde sofreram um corte no Orçamento do estado brasileiro para 2007.
A epidemia de infecção provocada pelo mosquito da dengue disparou em flecha e, de zona circunscrita, espalha-se agora por todo o país. O número de mortos por hemorragia já é preocupante, não tanto pela quantidade mas pelo crescimento.
► Há quatro anos cientista brasileiros desenvolvrm um insecticida natural contra o mosquito da dengue, a partir de uma planta muito comum na flora local. Quanto a resultados, ninguém avança conclusões nem prazos, mas o Governo ameaça com graves punições quem contribua, mesmo inadvertidamente ou por ignorância, para a proliferação do insecto. É o caminho mais fácil – responsabilizar o cidadão para desresponsabilizar o Estado; um truque velho e estafado.
► Em 2005, um autocarro de turistas portugueses que saíra do aeroporto do Recife com destino à aldeia turística de Porto de Galinhas, estado de Pernambuco, no Nordeste, foi assaltado, de noite, quase à chegada ao destino, em condições no mínimo suspeitas. Nessa ocasião, o facto foi objecto de uma crónica minha ("Autocarro de Portugueses Assaltado no Recife", Março de 2005) em que se podia ler: (...)"Na opinião das autoridades policiais e segundo declarações de políticos, expressas com maior veemência durante a campanha para as eleições autárquicas de Outubro passado, Recife é a capital nacional do crime, à frente de São Paulo e Rio de Janeiro.
Uma das vítimas mais recentes desta criminalidade foi um grupo de 19 portugueses, quase todos estudantes, que se dirigiam para Porto de Galinhas, uma bela e acolhedora cidadezinha balnear de magníficas águas cristalinas e piscinas naturais, a cerca de 53 km do Recife. Eram 21:30 h da passada terça-feira quando aterraram no aeroporto internacional do Recife. Cumpridas as formalidades de desembarque, os turistas recém chegados ocuparam quatro autocarros que, por razões de segurança, deviam dirigir-se em caravana para o desejado destino. De modo não completamente esclarecido, a última viatura ficou distanciada das restantes, a ponto de perder o contacto com elas. Já perto do fim da viagem, imobilizada por dois automóveis que a bloquearam na estrada e a conduziram depois para um caminho secundário, os seus passageiros foram rapidamente apeados e despojados dos seus principais haveres.
A operação decorreu breve e eficazmente para os assaltantes. No entanto, segundo o jornalista António Cancela, da SIC, eles actuaram de forma pouco organizada, revelando muito amadorismo. Amadores ou não, o que dizer, então, da polícia que, mais de 12 horas depois, ainda não tinha qualquer pista dos ladrões, numa região que conhece a palmos? Pior do que amadorismo, a imagem que o povo tem dos seus polícias é de que são incompetentes, mal equipados, corruptos e preguiçosos, o que, não em todos, mas em muitos casos, corresponde à realidade. Em fins do ano passado, um casal de médicos foi vítima de furto em Salvador da Bahia. Apresentada a queixa na Delegacia do Turista, foi-lhes dito de imediato que não tivessem esperança de reaver o que tinha sido furtado. Quanto a apoio imediato no terreno, com sorrisos e simpatias declararam nada poder fazer porque o único carro da delegacia não tinha combustível e o telefone fora cortado por falta de pagamento – desculpas demasiado absurdas para serem tomadas como verdade por quem conhece estes meandros; o miserabilismo administrativo tem os seus limites e, muitas vezes, resulta da inépcia dos responsáveis.
" O núcleo comercial de Porto de Galinhas, uma união de 30 empresas, prontificou-se a reembolsar os turistas portugueses de todos os prejuízos, mesmo os respeitantes à moeda, que as seguradoras não cobrem por ser difícil provar qual o montante perdido. Tal prestabilidade, quase comovente, assenta no simples facto de Pernambuco receber 70 mil portugueses por ano, sendo Porto de Galinhas o seu principal destino.
Por seu lado, o governador de Pernambuco garante que o transporte para os hotéis passará a ser escoltado pela polícia. Como em muitas outras situações, não deverá passar de conversa, neste caso para português ouvir. Se se quisesse impedir este tipo de actos, há muito que as escoltas estariam a ser feitas, tanto mais que os autocarros, por razões de segurança, já só circulavam em caravana. Portanto, sem escolta, era previsível que, mais dia, menos dia, algo de semelhante acontecesse".
No início de Março deste ano, um pequeno autocarro com turistas portugueses foi assaltado entre o Recife e Porto de Galinhas.
Cofirmou-se o que eu escrevi, então, sobre segurança e sobre as promessas mentirosas dos governantes.
Desta vez foi detido um um dos membros da quadrilha, um segurança (???) de 30 anos, preso no local de trabalho. Em casa dele descobriram a maior parte do produto do assalto, e uma pistola roubada no anao passado a um delegado de polícia, ou seja, um chefe de quartel de bairro. Como aconteceu este roubo? Mistério. Como a Polícia nunca o encontrou? Mistério. O "segurança" em questão é furagido dum presídio onde se encontrava detido por homicídio. Como escapou? Mistério. Como conseguiu emprego? Mistério. Como conseguiu emprego como "segurança"? Mistério.
Brasil, o país dos mistérios...



sexta-feira, março 16, 2007

PALHAÇADAS

Bush, o vizinho distante, rico e somítico, no papel hipócrita de ambientalista percorreu algumas das favelas (Brasil, Uruguai, Colômbia, México) cujas comissões de moradores (Governos e governantes) ainda lhe dispensam sorrisos de ocasião, embora os próprios moradores gostem dele à pedrada; ignorou aqueloutras em que as portas nem lhe seriam abertas, mas que lhe lançariam por cima do muro os dejectos da noite anterior.
Chávez, o vizinho do lado, rico e perdulário, no papel carcomido de traça de exportador de revoluções de museu evitou o caminho do outro e foi arrotar os impropérios a que nos habituou nos países que lhe tiram o chapéu por oportunismo, demagogia ou analfabetismo político (Argentina, Nicarágua, Bolívia, Equador).
Bem vistas e pesadas as figuras dos figurões, minha gente, que os leve a ambos a cauda de um foguete interestelar.
Por caminhos distintos, para não correrem o risco de se encontrar e terem de pedir aos respectivos guarda-costas para trocarem umas cacetadas, os dois líderes (se é que ainda se pode chamar assim com rigor a qualquer um dos dois presidentes) foram à vidinha tentando cumprir a missão, sendo a de Chávez impedir ou subvalorizar o cumprimento da missão de Bush.
Bush escolheu à lupa os visitados donde pretendeu obter vantagens comerciais, militares e políticas, deixando em troca promessas vagas, sem compromisso, de discurso adequado ao país em que se encontrava (dividir para reinar, oferecer sem se obrigar).
Na favela Brasil, o pretexto foi a produção de etanol, uma questão económica. Bush interessou-se muito pela técnica da produção do álcool combustível a partir da cana do açúcar, e pela técnica da construção e do funcionamento do motor a etanol.
Garantiu que pretende aumentar a importação americana de etanol combustível, mas, ao mesmo, garantiu também que não vai baixar as pesadas taxas (46%) de importação do álcool combustível, pelo menos até 2008, para proteger os produtores americanos que, a partir do milho, obtêm, para a mesma quantidade de cana brasileira, etanol em menor quantidade, de qualidade inferior no que toca ao rendimento do motor, mais poluente, mais caro, e com a agravante de precisar de petróleo para o processo produtivo, o que não acontece no Brasil.
Recusando-se a rever os impostos sobre este combustível, dá a impressão de que Bush não está interessado num possível negócio de etanol com o Brasil.
Esta é a verdade. Bush viajou ao Brasil a coberto do etanol, mas por outros motivos de que o etanol é uma das vertentes não prioritárias neste momento:
- pressionado pelo Congresso americano, Bush tenta fazer marcha atrás no tempo – o que é impossível – e apresentar-se aos contribuintes como um ecologista arrependido de não ter assinado o Tratado de Kyoto em 1992 no Rio de Janeiro; tarde demais, ninguém lhe dá crédito, mesmo com a conversa do etanol;
- incomodado, senão assustado, e esta é a principal motivação da viagem, pelo protagonismo político e pela liderança na América Latina de Hugo Chávez, um dos grandes produtores de petróleo, e amigo do peito e de cartilha do cocaleiro Evo Morales que dirige a Bolívia, um dos maiores produtores de gás natural, Bush teme, com alguma razão, que o venezuelano procure pôr em prática a sua ambição de criar uma zona de instabilidade em toda a América do Sul; na verdade, Chávez tem facturas a receber em relação à Bolívia, ao Equador e à Nicarágua, pelo menos, à Argentina, talvez, por empréstimos a fundo perdido para "campanhas eleitorais de sucesso", pagas pelo petróleo da Venezuela.
Acredito que as intenções de Bush, mostrar ao mundo um périplo de boa-vontade a favor do controlo da poluição, construir uma aliança com terceiro-mundistas para a produção de combustíveis baratos e menos poluentes, e, para consumo interno, dar a imagem do zelador pela limpeza do planeta, não tenham colhido qualquer efeito positivo (de credibilidade) sobre os destinatários das mensagens. Do ponto de vista da comunicação social, pior ainda: as televisões nacionais e estrangeiras deram mais destaque às vaias, aos apupos, às manifestações contra a sua presença no cone sul do que às beijoquices e apertos de mão, seus e da "primeira dama".
Vejamos agora o comportamento de Hugo Chávez.
Desregrado, tanto nos hábitos como nas palavras, com fome desmedida de Poder, quer mostrar, principalmente aos seus companheiros (da sua terra e do exterior) da escola do populismo, que o "grande chefe" corajoso, poderoso e carismático é ele, por direito próprio, e não o Brasil, como chegou a ser ensaiado, embora com alguma timidez ( mais aparente do que real, convenhamos) pelo presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva.
Este, ao ceder ao canto da sereia americana, deita por terra os planos hegemónicos de Chávez. Se for criado um núcleo duro de produção de etanol e biodiesel para substituir, em parte que seja, o uso exclusivo dos derivados de petróleo, Hugo Chávez, que deve o seu fulgor, precisamente, à extracção do petróleo, virá a ficar a médio e ainda mais a longo prazo desarmado. Tanto pior quanto tem sido o petróleo a moeda que tem pago as suas "extravagâncias amorosas" com os países seus irmãos. Deixaria, pois, de ter o ascendente sobre os EUA, de Bush ou de outro qualquer, que é a pedra angular da sua política externa.
Por isso H. Chávez insulta provocatoriamente Bush, seja onde for, mesmo em casa de Bush. Este, civilizadamente, não lhe responde, ignora-o, até porque os EUA são o principal parceiro comercial da Venezuela.
Por isso H. Chávez torce o nariz ao Brasil, com quem tanto contava para o apoio ao afrontamento com Bush, e diz, de uma forma pateticamente infantil , que não apoiará um grupo de países produtores de etanol e biodiesel porque estes servirão para "alimentar os carrões americanos".
Por isso H. Chávez conseguiu alterar a Constituição do seu país e estabelecer uma forma de governação decalcada do despotismo esclarecido do século XVIII, aqui mais despótico do que esclarecido, com uma Assembleia praticamente sem oposição, a garantia de reeleição até à eternidade (estilo castrista) e a permissão parlamentar para governar por decreto.
De tudo isto, é preciso não esquecer que a Venezuela:
- sem os EUA comprometeria gravemente a sua balança comercial;
- aumentou a mortalidade infantil em 9%, entre 1998 e 2003;
- quebrou a produção de petróleo em 30% nos últimos oito anos;
- teve um crescimento de renda per capita inferior a 1% entre 1999 e 2005;
- apresenta uma inflação anual de 17%, uma das maiores do mundo, e em crescimento;
- registou um aumento de 18% no número de famílias classificadas como pobres, desde que H. Chávez é presidente;
- viu a classe média encolher 30% desde 1998;
- afugentou o investimento estrangeiro em 86% no primeiro trimestre de 2006, comparativamente ao mesmo período do ano anterior;
- reduziu de 17 mil para 8 mil o número de empresas nos primeiros oito anos de governo de Chávez;
- teve um acréscimo de gastos públicos em 2006 da ordem dos 124% (em relação a 2005), com previsão de aumento de mais 32% neste ano.
Até quando a Venezuela vai aguentar isto?
O caos instalou-se na Administração; da corrupção não se fala; o crime e a violência dispararam; os supermercados subvencionados pelo estado esgotaram os géneros de primeira necessidade e têm as prateleiras vazias.
Então, entre os temores e as palhaçadas de Bush, e a auto-confiança negligente e as palhaçadas de Chávez, talvez o Brasil possa lucrar alguma coisa, no médio e no longo prazo, se souber aproveitar-se da situação – e se for capaz de pôr cobro à palhaçada que é a sua política, tanto interna como externa.



domingo, março 11, 2007

INSTANTÂNEOS (13)

► O crescimento diário da violência no Brasil não consegue motivar a atenção dos parlamentares para os 150 projectos de segurança pública que se encontram congelados no senado, aguardando apreciação e votação.
► Grandes empresários do comércio por grosso no Brasil (chamado comércio atacadista) foram presos por envolvimento no roubo de cargas de camiões. As mercadorias eram desviadas para os armazéns dos comerciantes ladrões, e daí distribuídas pelos revendedores.
► Ainda Bush não tinha chegado ao Brasil (aterraria em São Paulo horas depois) no início do seu périplo de sete dias pela América Latina, e já tinha provocado: um engarrafamento na cidade da ordem de 1h45 para percorrer 3 quilómetros, na mais movimentada avenida de São Paulo; manifestações contra a sua presença no Brasil, realizadas em diversas cidades por representações de variadas organizações sociais; a ira de populares que o apelidaram de "terrorista"; tumulto, pancadaria e violência em confrontos entre a Polícia e manifestantes; polícia feridos, manifestantes espancados.
Quem terá dado ordem para maltratarem os que não gostam de Bush e assumem o direito de o dizer nas ruas?
► Comentadores e analistas de política dizem que a pretexto de razões económicas (aliança com vista a criar uma parceria para desenvolver a produção de etanol como combustível, de que o Brasil não precisa por produzir muito mais e muito mais barato do que os EUA), a visita de Bush ao Brasil tem razões políticas de fundo, a principal das quais seria o perigo para os EUA da crescente influência esquerdista na América do Sul protagonizada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A América do Sul possui das maiores reservas de petróleo e gás natural do planeta. Uma desestabilização nesta área, liderada por Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia) ou qualquer outro que tal, seria mais uma dor de cabeça para a Administração Bush, já tão ineficaz em soluções para os problemas (que muitas vezes cria) por esse mundo fora.
► Em cada 10 exportações brasileiras para os EUA, 5 estão sujeitas a pesadas taxas alfandegárias. Só em produtos agrícolas, as perdas são da ordem dos 17 milhões de dólares. O etanol sofre um imposto de 46% para proteger o produto americano. Bush quer comprar mais álcool combustível mas com as mesmas restrições alfandegárias. Americano, seja ele de que cor política for, é todo igual.
► Improvisando uma operação de controlo de trânsito na estrada, dois agentes da polícia (verdadeiros) raptaram um empresário, e obrigaram-no a levantar dinheiro em várias caixas automáticas. Denunciados por populares, foram perseguidos. Após algumas trocas de tiros, acabaram detidos. Negaram o rapto (esperava-se o quê?) mas não foram capazes de justificar a enorme quantidade de dinheiro que traziam nos bolsos das fardas.
► No Rio de Janeiro uma quadrilha refinava heroína em laboratório próprio. No desmantelamento, concluiu-se que de cada 50 kg de produto bruto se obtinham 1,5 toneladas de droga para consumo. Não há nenhum investimento legal que proporcione tais lucros...
► Uma menina de 7 anos distribuiu pelos colegas de escola pequenas pastilhas de veneno para ratos, "pensando que se tratava de doces". Foram hospitalizadas 6 crianças. O veneno, chamado "chumbinho", tem proibição de venda há muito tempo, mas é disponibilizado na rua por vendedores ambulantes em todo o Brasil.
► Desabafo de um responsável policial: "Pessoas influentes envolvidas com pessoas influentes associam-se para dificultar a actividade da Polícia. Esta é a cara do crime organizado no Brasil. Por outro lado, como a Justiça se arrasta, muitos corruptos ficam sem punição".
► Desabafo de um responsável da OAB (Ordem dos Advogados Brasileiros): "A Justiça brasileira é de uma lentidão insuportável, e isso beneficia os ricos, porque estes podem contratar advogados que conseguem adiar por anos o julgamento dos processos.
► Em São Paulo, uma jovem filha de família muito rica (negócio de construção civil) formou uma quadrilha com o namorado bandido e dois amigos deste. Depois de vários assaltos a casas de jogo que, simultaneamente, servem de agência bancária (casamento funesto especialmente compreensível no Brasil) a mocinha e dois cúmplices foram presos. O namorado desapareceu (o amor bandido tem destas coisas). Ao ser detida pela Polícia, a jovem disse que o pai tem muitos conhecimentos e que, portanto, nada lhe acontecerá; uma declaração pública de garantia de impunidade – sem grandes dúvidas de que assim possa acontecer.
► Paulo Maluf é um político malandro e ladrão muito conhecido no Brasil (e noutras zonas do mundo, em particular off-shores) – ele e a família, malandra também. Foi presidente do município de São Paulo e governador do mesmo estado. Roubou o que pôde dos cofres públicos, e o que não pôde deixou para o clã familiar roubar. Preso e solto várias vezes, sempre declarou a sua inocência, às vezes com as lágrimas de quem se sente ultrajado. Agora, na excelentíssima mansão em que vive com o clã, construída com o dinheiro dos contribuintes, teve a triste notícia (ó, coitado) de que a Polícia dos EUA pede a sua captura por lavagem de dinheiro, entre outras coisa – dinheiro proveniente da corrupção. Só em referência a três anos, foram detectados 140 milhões de dólares passados por uma única conta de um paraíso fiscal. Mas Maluf tem várias contas em vários paraísos. Uma curiosidade tipicamente brasileira: apesar de os "escândalos Maluf" percorrerem os órgãos de comunicação social há vários anos, Maluf conseguiu ser eleito deputado nas últimas legislativas (Outubro de 2006), engrossando o clube da malandragem que habita o Congresso brasileiro.
► "Brasil e Índia têm muitas semelhanças na economia e nos hábitos. A Índia exportou para o Brasil produtos no valor de 1,47 bilhões de dólares. O Brasil exportou para a Índia produtos no montante de 937 milhões de dólares". Sem comentários.
► Em bairros periféricos do Recife (capital do estado nordestino mais miserável do Brasil, onde foram gastos alguns bilhões de reais com o Carnaval, valendo 1 real cerca de 0,37 euros) menores armados vigiam de dia artérias e residências para poderem efectuar assaltos de noite.
► Em menos de 48 horas, 5 agentes da Polícia foram assassinados no Rio de Janeiro, e bandidos lançaram duas granadas contra bombas de gasolina. Não há presos.



quarta-feira, março 07, 2007

PÃO E CIRCO

Passadas duas semanas sobre a quarta-feira de cinzas que, no Brasil, não é limite para a folia, bem pelo contrário, se constitui em provocação para continuar, se possível até à eternidade, a poeira levantada pelos forrós, pelos frevos, pelos sambas, pelos desfiles das escolas começa a assentar um pouco.
Não que se tenha posto um ponto final no assunto, longe disso: encerradas oficialmente as festas, começa de imediato a preparar-se o carnaval do ano que vem.
Por outro lado, muita gente não vai esquecer este carnaval, como outras gentes não esqueceram anteriores, pelas máscaras de tristeza que a folia lhes estampou no rosto, talvez para sempre: são aqueles que perderam parentes e amigos, mortos à facada ou à bala, por vingança adiada ou rixa acesa nos calores da cerveja ou da cachaça; são aqueles que ficaram definitivamente deficientes por acidente de trânsito provocado por algum bêbado que fugiu do crime ou foi libertado cedo para não super super lotar as super super lotadas cadeias brasileiras; são as mulheres que engravidaram sem saber quem é o pai do filho que lhes empina a barriga; são aqueles, maridos ou mulheres, filhos ou filhas, que viram os lares desfeitos porque um dos pilares da casa saiu para dar um pulinho carnavalesco e nunca mais voltou, preso nas cadeias de braços e abraços de ocasião; é aquele e aquela que lavaram para casa para toda a vida vírus e doenças de sexos desconhecidos.
Pão e circo. Mais circo do que pão.
Bilhões de reais (1 real vale cerca de 0,37 euros) foram investidos no Carnaval pelas autoridades locais, à boa maneira dos imperadores romanos dos primeiros séculos da nossa era.
Aqui e agora, tal como lá e nessa época, trabalha-se pouco e pretende-se o prato cheio.
Aqui e agora, tal como lá e nessa época, os novos imperadores escondem-se atrás do Carnaval, para deixar para lá, para amanhã ou, de preferência, para depois de amanhã, pensar nos problemas da falta de infra-estruturas na saúde, na habitação, no saneamento básico, nos transportes terrestres, marítimos e aéreos, na agro-pecuária; nos problemas da violência crescente, com especial destaque para protagonistas crianças e adolescentes; nos problemas da corrupção generalizada na classe política, nas Polícias, nos servidores públicos;nos problemas do modelo económico, o de pior crescimento em 2006 de toda a América Latina.
Aqui e agora, tal como lá e nessa época, ninguém repara nos sinais de implosão iminente; nem nas sombras dissimuladas dos novos Bárbaros que, pacientemente, esperam à porta para poderem entrar sem pedir licença.



segunda-feira, março 05, 2007

INSTANTÂNEOS (12)

► Em acidentes de trânsito morrem por ano nas estradas brasileiras 26 mil pessoas. Os carros produzidos no país não têm as mesmas condições de segurança daqueles que se destinam a exportação. Se o cliente quiser um automóvel igual aos que vão para o estrangeiro, terá de pagar um acréscimo de 6 mil reais (2230 euros), para um custo médio de 27 mil reais (10 mil euros) de um carro familiar médio.
► Um adolescente detido em internamento do Estado por crimes (do simples furto ao assassinato) custa no Brasil o equivalente aos gastos com 28 alunos de uma escola pública.
► A Receita Federal (Finanças) brasileira destrói diariamente 8 milhões de cigarros falsificados.
► O Brasil gasta milhares de reais (1 real vale cerca de 0,37 euros) com deslocações de presos para tribunais, porque a Justiça ainda não aceita julgamentos por vídeo conferência.
► No Rio de Janeiro, 50% dos menores internados em estabelecimentos de recuperação voltam a cometer crimes depois de soltos. Dos que cumprem penas ("integração social") em regime semi-aberto, 60% fogem e não regressam aos internatos.
► Para roubarem de noite 100 mil reais (37 mil euros) do cofre de um banco em São Paulo, dois bandidos precisaram apenas de um alicate e um berbequim eléctrico. Haja segurança...
► A escola de samba que ganhou o primeiro lugar no desfile do Carnaval de 2007 no Rio de Janeiro investiu na preparação para o concurso 7 bilhões de reais (2,6 bilhões de euros). Seria bom saber, para o escândalo ser mais completo, quanto gastaram as outras inúmeras escolas que desfilaram. Mais ainda: quanto se gastou no Brasil com o Carnaval? Quanto se perdeu por não ter sido recuperado pelo turismo? Os números devem ser tão arrepiantes que ninguém se atreve a divulgá-los.
► A Caixa Económica Federal vai disponibilizar 5 bilhões de reais (1,9 bilhões de euros) para financiamento de construção e saneamento básico.
► Oposição quer instalar a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para averiguar as causas do caos que se instalou no tráfego aéreo brasileiro. Mas o presidente da República, Luís Inácio Lula Lula da Silva pede à base aliada que vote contra. Para quem tanto defende a separação e a independência entre os três Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judicial) parece uma intromissão grave. Aliás, quem não deve não teme.
► "O governo federal pretende regulamentar o direito de greve dos servidores. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, discutiu hoje o assunto numa reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. Mesmo com a regulamentação, setores considerados essenciais poderão ser proibidos de fazer greve". E a Constituição, Presidente? Ou será que o Brasil vai a caminho de uma tentativa de imitação do seu amigo do peito Hugo Chávez da Venezuela que já governa por decreto e se fez presidente até 2018? Não seria de espantar, uma vez que os escândalos financeiros e políticos de 2006 visavam criar uma ditadura branca, com a perpetuação de Lula e o seu partido no Poder.
► Em Janeiro deste ano, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registou uma taxa de desemprego de 9,3% (aumento 0,9% em relação ao mês anterior), e uma redução de 1,1% nos rendimentos familiares. Entre 2005 e 2006 não houve aumento de postos de trabalho.
► Um congressista de nome José Janene, do partido do Governo, não reeleito no último acto eleitoral de Outubro p.p., sobejamente conhecido por falta de decoro parlamentar, protagonista de uma dos maiores escândalos políticos do Brasil, envolvendo a compra, com dinheiros públicos, de deputados para votarem as propostas do Governo do presidente Lula da Silva, não só foi absolvido pelos seus pares (da grande Corporação que é o Congresso do Brasil) e escapar às malhas da Justiça, como conseguiu uma reforma por inteiro da ordem dos 12,7 mil reais por mês (4704 euros), mesmo sem o tempo de contribuição exigido por lei, alegando, por relatórios médicos, problemas cardíacos, apesar de ser visto permanentemente em festarolas de arromba. Claro que tem motivos para festejar. No Brasil o crime compensa. Com ele foram contemplados mais 6 deputados, todos metidos no esquema de corrupção, embora com pensões um pouco menores.
► Em Janeiro de 2007 as exportações brasileiras aumentaram 15% e as exportações 25%. A balança de pagamentos ainda se encontra com saldo positivo; não se sabe se, por este andar, continuará assim.
► Para não serem prejudicados nos salários por faltas ao parlamento a partir do dia seguinte à quarta-feira de cinzas, os deputados estaduais de várias assembleias legislativas decretaram para si próprios férias até domingo.
► A disputa por verbas vale mais do que os programas de governo. Isso comanda a competição dos vários partidos políticos por ministérios. "O que interessa é quem vai controlar as verbas para poder desviá-las".
Do orçamento do estado de São Paulo em 2006, foram retirados 50% das verbas destinadas às Polícias e 27 % das destinadas às prisões. Neste estado o crime tornou-se incontrolável
► O crescimento económico do Brasil em 2006 foi de 2,9%, a pior taxa da América Latina, se exceptuarmos o Haiti que está em guerra civil. Mesmo assim , alguns economistas esperavam que o desempenho fosse ainda inferior.
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