CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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quinta-feira, novembro 08, 2007

SER UM PAÍS GRANDE, OU SER UM GRANDE PAÍS

Identifica-se muitas vezes, e muitas vezes erradamente, país grande com grande país, e a realidade objectiva "país grande" tem servido, com frequência, manobras demagógicas de governantes, quando pretendem camuflar a miséria em que o povo vive, as desigualdades sociais, as múltiplas carências com a dilatada dimensão geográfica.
No Brasil, estendido por uma superfície de cerca de 8.500.000 km2, caberiam 208.000 Suíças. Dos 26 estados brasileiros e distrito federal, apenas três áreas administrativas são geograficamente menores do que a Suíça. A população brasileira apresenta um número 28,5 vezes maior do que a daquele país europeu.
Sem dúvida o Brasil é um país grande. Mas será um grande país?
Alguns indicadores, todos recolhidos via internet, de páginas de órgãos governamentais, de ONG's, de meios de comunicação, de universidades e outros agentes científicos e técnicos, de páginas pessoais, e de trabalhos apresentados, poderão ajudar a compor uma resposta.
Distribuição de rendimentos.
O Brasil ocupa a 8ª posição na economia mundial, mas quanto à distribuição dos rendimentos figura em penúltimo lugar (o último pertence à Serra Leoa, um país miserável, em África, que saiu há pouco duma guerra civil que o devastou durante 10 anos).
Grande parte da população é obrigada a viver com 1 salário mínimo, ou menos (400 reais, 148 euros), e a maioria com menos de 2.
O rendimento médio mensal é de 765,90 reais (284 euros), segundo dados de 2004.
As mulheres ganham 77% do que ganham os homens.
"A metade pobre da população brasileira ganha em soma quase o mesmo valor (12,5% da renda nacional) que os 1% mais ricos (13,3%)".
"A concentração da renda permaneceu praticamente inalterada – seus índices oscilando dentre as 10 últimas posições do mundo – durante as últimas quatro décadas".
Segundo dados de 2007, 10% dos mais ricos gastam 10 vezes mais do que 40% dos mais pobres.
Habitação.
"No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de sete milhões de famílias não têm casa (...). Alguns ficam nas ruas, outros vivem à beira de estradas ou fazem abrigos de lona e papelão. Calcula-se que outros 15 milhões vivam em moradias inadequadas. Em contrapartida, os imóveis desocupados nos principais centros urbanos somam cinco milhões, completando o cenário de déficit habitacional no país. (...) O problema da moradia é crescente".
"Entre 2000 e 2005, o déficit habitacional aumentou de 6,6 milhões de moradias para 7,9 milhões. Desse déficit, 91,6% das famílias ganham até cinco salários mínimos".
"São cerca de 75 milhões de pessoas que moram em situações precárias no Brasil" – 37,5% da população.
Saneamento.
"Em 2000, 60% da população brasileira não tinha acesso à rede colectora de esgotos e apenas 20% do esgoto gerado no país recebia algum tipo de tratamento. Nesse mesmo ano, quase um quarto da população não tinha acesso à rede de abastecimento de água".
Nessa data, dos municípios brasileiros, "cerca de 97,7% conta com rede de abastecimento de água e apenas metade deles possui rede de esgoto. (...) Mais de 77,8% dos domicílios brasileiros tinham acesso à água potável, enquanto apenas 47,2% das casas eram servidas pela rede de esgoto. (...)".
(...) "Entre os 5.507 municípios do País, mais de 1,3 mil enfrentam problemas com enchentes. A colecta de lixo é amplamente difundida, porém a grande maioria dos municípios (63,3%) deposita seus resíduos em lixões a céu aberto e sem nenhum tratamento. Os aterros sanitários estão presentes em apenas 13,8% dos municípios brasileiros, e apenas 8% deles afirmam ter colecta selectiva".
Em 2000 foram registados mais de 800 mil casos de seis doenças – dengue, malária, hepatite A, leptospirose, tifo e febre amarela – que estão directamente ligadas à má qualidade da água, às enchentes, à falta de tratamento adequado do esgoto e do lixo. Naquele ano, mais de 3 mil crianças com menos de cinco anos morreram de diarreia".
"A região Sudeste se destaca como a área com os melhores serviços de saneamento. Por outro lado, as regiões Nordeste e Norte são as que apresentam os piores índices. No Nordeste, mais de metade dos municípios não conta com rede de abastecimento de água e de esgotos".
Ainda hoje, 35% das habitações não possuem água canalizada.
Saúde.
(...) Os serviços de saúde no Brasil deixam a desejar, tanto por questões sociais, quanto econômicas".
"Em todo o país, o atendimento médico agoniza no caos e o descaso dos governantes empurra os doentes para o abismo da indigência".
"A crise na saúde não tem fronteiras, vai do Norte ao Sudeste. O quadro é tão grave que mesmo doentes que estão próximos a metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo não têm garantia de sofrimento menor".
"Seja qual for a região, é difícil encontrar hospitais públicos ou conveniados no SUS [Sistema Único de Saúde] que façam valer o direito ao tratamento médico de qualidade. Não chega a ser novidade a constatação de que o sistema de saúde funciona precariamente. O mais trágico é o aprofundamento do caos".
São 70% os brasileiros que, pelos magros recursos, apenas podem recorrer ao SUS.
"No Nordeste, o problema comum é a carência de unidades no interior. Os políticos costumam inaugurar postos médicos sem condições de atendimento e compram ambulâncias para levar os doentes aos hospitais das capitais – ambulancioterapia".
"Na região Norte, não faltam apenas hospitais, mas também profissionais de saúde.Ali, a carência de material humano é a maior do País: a média é de 1.100 habitantes para cada médico".
Os Conselhos Regionais de Medicina não têm qualquer papel moralizador sobre a actividade dos clínicos. Pelo contrário, imbuídos do mais radical espírito de corporação, defendem incondicionalmente os seus associados, mesmo quando os actos médicos são, manifestamente, prejudiciais aos pacientes, seja por incompetência, seja por incúria".
Ensino.
No ensino público, greves sucessivas de professores, escolas degradadas, professores mal preparados e mercenários, ambiente de indisciplina em que alunos fazem o que querem dos professores sob a ameaça de coacção e represália física levada a cabo pelos respectivos pais.
No ensino privado, rede de colégios que, em muitos casos, são apenas máquinas de fazer dinheiro.
Estas algumas das razões que levaram o presidente da República, Lula da Silva, a dizer em público, recentemente, que "o ensino no Brasil é o pior do mundo", embora seja do seu mandato a directiva de não reprovar alunos – para compor as estatísticas.
Estamos, pois, perante "um sistema cada vez mais homogéneo e não-excludente, mas que corre o risco de ver óptimas ideias serem transformadas em um ensino de mentira, em que alunos são reprovados sem adquirir os conhecimentos mínimos necessários para aprender conteúdos mais complexos".
"Um olhar rápido sobre os números actuais pode levar a comemorações. Entretanto, corremos o risco de estar disseminando outra vez uma educação de faz-de-conta, na base de professores que fingem ensinar, alunos que aparentam aprender e autoridades que simulam priorizar a educação".
"A verdade é que as escolas públicas não ensinam nossas crianças a ler, escrever e contar... E, pior do que isso, é a corporação [professores] vir a público e dizer que a culpa é das crianças, das mães, dos pais, da família, da comunidade, da sociedade, do governo...";.
"As mães cobram da escola o direito de fazer festas para o aniversário dos seus filhos. Afinal, escola é para isso. Além do mais, não pode reprovar, pois causa stress, constrangimento, traumas e provoca baixa estima".
Estão fora da escola "5 milhões de criança com idade entre 4 e 14 anos e 2 milhões de jovens com idade entre 15 e 17 anos".
No Brasil, segundo dados de 2000, há mais de 16 milhões de analfabetos com idade superior a 15 anos, e grande parte deles (8 milhões) tem para cima de 50 anos. O estado com maior número de analfabetos é a Bahia (2.057.907), seguido de São Paulo (1.810.618).
"Em termos absolutos, havia 14,8 milhões de analfabetos em 2002, e em 2005 esse número tinha caído apenas para 14,6 milhões".
"Embora a falta de instrução primária seja comum a todas as regiões e atinja 10,2% da população com 10 anos ou mais de idade, é mais acentuada no Nordeste, onde a proporção chega a 20% - no Sul é de 5,4%".
A percentagem de analfabetos funcionais entre os idosos é de 49%.
"Não há estatísticas precisas do número de analfabetos funcionais no Brasil. Dependendo do rigor do conceito, pode-se estimar um percentual de 25% a 75% dos brasileiros".
Por isso alguns dizem que "o Brasil tem 33 milhões de analfabetos funcionais (cerca de 18% da população), ou seja, pessoas com menos de quatro anos de estudo, e 16 milhões de pessoas com mais de 15 anos que ainda não foram alfabetizadas", enquanto outros asseguram que "74% dos brasileiros são analfabetos funcionais". O consultor do ministério da Educação (MEC) que tal afirmou durante um congresso em São Paulo disse ainda que "a taxa bruta de matrículas nas universidades é de apenas 20%. Daqui a 20 ou 30 anos a quantidade de analfabetos funcionais no Brasil será a mesma que os outros países têm de universitários. Vai ser uma competição de um país de analfabetos contra outros de bacharéis".
Trabalho.
Acima de metade dos trabalhadores brasileiros [54,3%] não contribui para a previdência social. São mais de 40 milhões de trabalhadores".
"Em 2005, o número de vagas formais criadas já havia registado queda de 17,7% em relação a 2004, melhor ano do Governo Lula para o mercado de trabalho".
"Mais de metade dos trabalhadores brasileiros arregaça as mangas e pega no batente todos os dias sem ter nenhum direito trabalhista. Eles são informais. Fazem parte de um país quase clandestino, que não existe oficialmente. (...) São os sem direitos [47 milhões]. E eles são maioria. Entre os trabalhadores ocupados no Brasil, apenas 46,6% estão contratados dentro da lei. São informais [sem qualquer contrato de trabalho] 53,4%. Não têm auxílio doença, aposentadoria, pensão por morte e nem têm garantidos os benefícios dos contratados com carteira [contrato assinado]: férias, gratificação de um terço do salário nas férias, descanso remunerado, décimo terceiro, pagamento de hora extra, licenças maternidade e paternidade, e, em caso de demissão, aviso prévio de 30 dias".
Transportes.
Há 40 anos, a rede ferroviária transportava 100 milhões de passageiros. Hoje, transporta 1 milhão num número reduzidíssimo de troços, e a maior parte das estações e demais equipamentos transformam-se, de minuto a minuto, em ruínas e sucata com cobertura de capim.
As cidades estão congestionadas de trânsito automóvel e de motociclos.
Os aeroportos não funcionam, ou funcionam mal, as pistas e as aeronaves não respeitam normas de segurança, os instrumentos dos controladores de tráfego aéreo são desactualizados e insuficientes, a Infraero (agência que administra os aeroportos) e a ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) degladiam-se e vivem na corrupção, favorecendo os interesses das companhias aéreas e não dos passageiros a quem essas mesmas companhias aéreas não prestam qualquer tipo de assistência quando se verificam atrasos ou cancelamentos de voos. Os riscos de acidente aéreo sucedem-se. Os desastres, evitáveis, deixam centenas de mortos. A isto, a ministra do Turismo diz "relaxe e goze porque depois esquece todos os transtornos", e o ministro da Fazenda defende que o caos aéreo se deve ao surto desenvolvimentista do país...
Embora 60% das mercadorias sejam escoadas pela malha rodoviária, "quase todas as estradas brasileiras estão em péssimo estado de conservação: esburacadas, abandonadas, mal sinalizadas, sem acostamento, com animais na pista, com centenas de quebra-molas [lombas para redução de velocidade] instalados sem sinalização e fora dos padrões legais, etc. Mesmo nas estradas em que somos obrigados a pagar um pedágio [portagem] absurdamente caro, as estradas estão longe de ser uma maravilha. O que existe em quase todas as estradas (com ou sem pedágio) é uma quantidade enorme de lombadas e pardais [radares] instalados pela indústria das multas".
"O baixo índice de pavimentação das rodovias pôs o Brasil numa posição delicada entre os vizinhos da América do Sul". Com apenas 11% das estradas asfaltadas (196 mil quilómetros), o País amargou um sexto lugar no ranking de malha rodoviária ponderada pela superfície terrestre e população. Isso significa que a malha nacional é proporcionalmente e relativamente menor que a do Uruguai, Paraguai, Argentina, Venezuela e Suriname, segundo estudo inédito da Associação Nacional de Transporte de Carga & Logística (NTC)".
"Considerando pesquisa recente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), o total de vias federais a ser recuperado soma 58 mil quilómetros (32 mil em situação ruim ou péssima e 26 mil em estado regular). Ou seja, o dinheiro liberado em carácter emergencial atende menos da metade da demanda efectiva de melhoria das pistas das rodovias brasileiras, principais bases de nossa infra-estrutura de transportes, levando-se em conta a precariedade dos modos ferroviário e hidroviário e o alto custo dos fretes aéreos".
"Os números denunciam o desleixo com que os nossos governantes vêm, ao longo do tempo, tratando esse património nacional. São 54,5% das estradas com avaliação regular, ruim, ou de péssima qualidade. A sinalização deficiente, que contribui seriamente para o massacre nas estradas, atingiu o índice de 70,3%. (...) O Governo Federal já recolheu através do CIDE – o imposto sobre os combustíveis – mais de R$ 35 bilhões [13 bilhões de euros] e, deste valor, tem repassado muito pouco aos estados, deixando os governos estaduais com dificuldades para efectuar a reparação tão necessária na malha rodoviária".
Acidentes de trânsito.
"Os acidentes de trânsito aumentaram 90% em 3 anos no Brasil. Em 2002, 32.753 pessoas morreram por esta causa, enquanto que, em 2005, os registos de óbito chegaram a 35.753".
"Aumento de 72% nos óbitos em municípios com menos de 100.000 habitantes, entre 1990 e 2005, quando passaram de 9.998 para 17.191 nesses municípios".
"As faixas etárias mais afectadas foram as dos 20 aos 39 (45%) e dos 40 aos 59 anos (26%), totalizando 25.375 óbitos entre os 35.753 registados em 2005. do total de mortos nessas faixas, 85% (cerca de 21.529 óbitos) ocorreram entre homens. Entre os adolescentes, o acidente de trânsito já é a segunda principal causa de morte – a primeira é o homicídio. De acordo com nova avaliação, 3.976 pessoas entre 10 e 19 anos perderam a vida no trânsito em 2005".
"Quanto às internações no Sistema Único de Saúde (SUS), dados de 2006 indicam que foram 123.061, ao custo de 118 milhões de reais (47,3 milhões de euros). A maioria das internações (41.517) ocorreu por atropelamentos, seguidos pelos acidentes com motociclistas (34.767)".
"As causas das preocupantes estatísticas estão relacionadas com consumo excessivo de bebidas alcoólicas, alta velocidade, não uso de capacete ou de cinto de segurança e problemas na infra-estrutura de rodovias e vias públicas".
"Grande parte dos óbitos por acientes de trânsito é devida ao atropelamento de pedestres ou acidentes envolvendo automóveis, embora nos últimos anos se observe aumento no risco de morte por acidentes de trânsito envolvendo motos".
Violência.
"Em 10 anos, o número de jovens assassinados no Brasil passou de 11.300 para 18.600. um aumento de 64%. Eles são 20% da população e 38% das vítimas".
"A acção da Polícia que, segundo relatório, matou quase 7.000 pessoas no Rio e em São Paulo em quatro anos, também é criticada. Assim como a impunidade".
"Mata-se muito no Brasil. O índice de homicídios no país fica entre os mais altos das Américas e do mundo. Entre os milhares de homicídios que acontecem todo ano, destacam-se os incidentes de Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais. Trata-se de casos nos quais as autoridades, ou agentes particulares que contam com o apoio explícito ou implícito das autoridades máximas matam civis sem justificativa, como seria o caso de legítima defesa. Infelizmente, no Brasil, as autoridades não mantêm cifras nacionais sobre a incidência dessa prática abusiva".
"Na década 1994/2004, o número total de homicídios passou de de 32.603 para 48.374, o que representa um incremento de 48,4%, bem superior ao crescimento da população, que foi de 16,5% nesse mesmo período".
"No n´vel internacional, entre 84 países do mundo, o Brasil, com uma taxa total de 27 homicídios em 100.000 habitantes, ocupa a 4ª posição no ranking , só melhor que a Colômbia, e com taxas bem semelhantes às da Rússia e da Venezuela. As taxas de homicídio de 2004 são ainda 30 ou 40 vezes superiores às taxas de paíse como a Inglaterra, Gfrança, Alemanha, Áustria, Japão ou Egipto".
"Entre 1994 e 2004, os homicídios na população jovem saltaram de 11.330 para 18.599, com aumento decenal de 64,2%, crescimento bem superior ao da população total: 48,4%".
"Os índices de homicídio juvenil são, proporcionalmente, acima de 100 vezes superiores aos de países como Áustria, Japão, Egipto ou Luxemburgo".
"Os avanços da violência homicida das últimas décadas no Brasil são explicados exclusivamente pelo aumento dos homicídios contra a juventude. Se as taxas de homicídio entre os jovens pularam de 30,0 em 1980 para 51,7 (em 100.000 jovens) em 2004, as taxas para o restante da população até caíram levemente, passando de 21,3 para 20,8 (em 100.000 habitantes)".
A taxa média de homicídios juvenis (51,7 a cada 100.000 jovens) é 148,4% superior à taxa do resto da população (20,8 em 100.000)".
"O problema se agrava nos finais de semana, quando cresce 72,4% para a população geral, e 1321,6% entre os jovens. No contexto internacional, pesquisados 84 países do mundo, as taxas brasileiras de mortalidade por acidentes de transporte são ainda elevadas: o Brasil ocupa a 16ª posição na mortalidade geral e a 26ª posição quando se trata de mortalidade juvenil".
"O capítulo de mortalidade por armas de fogo engloba mortes por homicídio perpetrado com armas de fogo, suicídios com arma de fogo, acidentes com armas de fogo e mortes por arma de fogo de intencionalidade indeterminada, isto é, que se desconhece se foi acidental, autoprovocada ou provocada intencionalmente por terceiros. Nesse campo, no ano de 2004, registaram-se 37.113 mortes causadas por armas de fogo. A grande maioria: 92,1% em homicídios, 3,3% em suicídios, 0,5% em acidentes envolvendo uma arma e 4% indeterminados. Com esses quantitativos, a taxa brasileira de mortes por armas de fogo elevou-se para 20,7 óbitos em 100.000 habitantes, ocupando a segunda posição, logo depois da Venezuela, em um ranking de 64 países do mundo com informações sobre o tema".
"Nos últimos anos, a sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas do mundo. Hoje, o país tem altíssimos índices de violência urbana (violênciqas praticadas nas ruas, como assaltos, sequestros, extermínios, etc.); violência doméstica (praticada no próprio lar); violência familiar e violência contra a mulher, que, em geral, é praticada pelo marido, namorado, ex-companheiro, etc".
"O Brasil é considerado um dos países mais violentos do mundo. O índice de assaltos, sequestros, extermínios, violência doméstica e contra a mulher é super alto e contribui para tal consideração. Suas causas são sempre as mesmas: miséria, pobreza, má distribuição de renda, desemprego e desejo de vingança".
"A repressão usada pela Polícia para combatê-la [violência] gera conflitos e insegurança na população que nutrida pela corrupção das autoridades não sabe em quem confiar e decide se defender a próprio punho perdendo seu referencial de segurança e sua expectativa de vida".
"De cada 100 mulheres no Brasil, 15 vivem ou já viveram algum tipo de violência doméstica, praticada principalmente por maridos e companheiros de lar".
"As maiore vítimas de homicídios no Brasil, entre 1980 e 2002, são jovens e adolescentes entre 15 e 19 anos, que correspondem a 87,6% dos casos; 5% desses casos ocorreram com crianças de até 9 anos de idade".
"Pesquisas recentes confirmam a pouca confiança depositada nas polícias em quase todos os estados brasileiros. As armas que a polícia usa para matar, e continua a matar muito, ainda não são suficientemente controladas. A corrupção policial permanece, sem que se instituam formas eficientes de controlo demovrático dela".
"Os índices de corrupçaõ nas polícias do Brasil são muito altos, não tanto pelo salário baixo, mas pela desqualificsação, inclusive moral, dos seus integrantes".
Justiça.
No Brasil a Justiça é lenta.
No Brasil a Justiça é selectiva; se a Lei, por princípio, é igual para todos, na prática é aplicada de forma diferente consoante interesses e escalões financeiros, políticos e corporativistas. As demonstrações recentes de isenção e verticalidade por parte do Supremo Tribunal Federal, ao aceitar as denúncias do Procurador Geral da República contra figuras públicas da vida brasileira (empresários, parlamentares, financeiros, ex-ministros) envolvidos em escândalos de corrupção e desvio de dinheiro do Estado, não chegam para fazer esquecer outros comportamentos do Poder Judiciário.
O Brasil, para além de se reger ainda por alguma legislação – demasiada – que não corresponde às necessidades decorrentes da realidade do país e do resto do mundo, não tem quem obrigue ao cumprimento das leis. Portanto, o Brasil não é um país sem Lei; é, sim, um país fora-da-lei.
"O país tem actualmente cerca de 550.000 foragidos da Justiça por crimes como assaltos, sequestros e assassinatos".
"Há mais foragidos do que presos no sistema penitenciário nacional; cerca de 550.000 mandados de prisão decretados pela Justiça não foram cumpridos pelas Polícias".
"As cadeias brasileiras possuem 401.236 presos. Em Dezembro de 2005 registavam-se 361.402 presos no país. No ano passado, no mesmo período, o número ultrapassou a barreira dos 400.000, quase o dobro da população carcerária do Brasil registada em 2002, que indicava 240.000 mil presos aproximadamente".
"Os números são expressivos e um indicativo do crescimento da criminalidade no país".
"A população carcerária cresce mais de 10% ao ano, índice superior à média de crescimento anual da população, de 1,3%. A população carcerária vem aumentando em todo o undo, entretanto, o problema se acentuou ainda mais no Brasil".
"O secretário Nacional de Segurança Pública admitiu que o quadro de vagas no sistema penitenciário é realmente deficitário e opera no limite de sua acapacidade".
"É proibido constranger bandidos. Os direitos humanos estão aí, exactamente, para ganatir isso. Através sede pressões, as Leis brasieliras, consideradas as mais humanas (mais brandas), dão um show de liberdade. Não para os cidadãos, mas para os verdadeiros cidadãos, os bandidos. Indultos, os presos podem passar em suas casas: 1º de Janeiro, dia das mães, dia dos namorados, jogos da copa [campeonato do mundo de futebol], 7 de Setembro (quando comemoram a independência), dia da criança, no natal, e ainda nos dias de seus santos padroeiros".
Política.
Num país que se diz democrático, mas em que o voto é obrigatório como meio de legitimar as torpezas e todo o tipo de abusos dos políticos (corrupção, desvio de dinheiros públicos, homicídios, até), a democracia é paralítica: desloca-se no carrinho de rodas que os políticos empurram.
Por causa dessa paralisia são toleradas e alimentadas a compra de votos e a existência de cabos eleitorais. Compram-se votos com meia dúzia de tijolos ou um saco de cimento, um cheque, ou a promessa de um emprego, se bem que, muitas vezes, os tijolos e o cimento sejam recolhidos após as eleições, os cheques não tenham fundos na conta, e os empregos nunca sejam concretizados.
A política, actividade pública por excelência, actividade nobre, mas praticada no Brasil de forma perversa e pervertida, tem mostrado, principalmente nos últimos tempos, a verdadeira cara dos seus agentes: autarcas, parlamentares, governadores, ministros e presidentes.
Sucessivos escândalos de incompetência, de indiferença, de corrupção,de desvio de dinheiro dos contribuintes, trazem ao conhecimento dos cidadãos os reais interesses dos políticos brasileiros: a satisfação dos seus objectivos pessoais a partir do bem público e em detrimento deste.
Se as suas vigarices são descobertas, choram, literalmente, em frente às câmaras de televisão, protestando a sua inocência, afivelam o ar indignado de quem é acusado injustamente, e queixam-se com amargura de que a imprensa os calunia e cria factos inexistentes.
Depois, quando as trafulhices são por demais evidentes, e é preciso encenar um julgamento para conter a opinião pública, acabam absolvidos nos Conselhos de Ética (?) pelos seus pares, todos eles com telhados de vidro e, portanto, obrigados a protegerem-se mutuamente dentro da corporação – mesmo quando são inimigos viscerais. E assim se vão perpetuando nos lugares que ocupam, ajudados pela miséria, o analfabetismo e a curta memória do povo.
Com os seus exemplos degradantes, num perpétuo ciclo de crime/impunidade, fazem baixar os níveis de civismo, civilidade, cidadania e civilização, cujas designações passam a ser conceitos vagos, e criam, em contrapartida, uma cultura de "salve-se quem puder", em que todos os meios são consentidos porque o crime compensa.
Esse "jeitinho" brasileiro de "se virar" está patente em actos, dos maiores aos menores, do dia-a-dia, assente no desrespeito institucionalizado para com tudo e para com todos, projectando-se nos assaltos, nos roubos, nos sequestros, nos estupros, nos homicídios, nas brigas de trânsito, muitas vezes "resolvidas" a tiro, no desprezo dos automobilistas pelos peões, e na indiferença dos peões pelos automobilistas; nos espancamentos por diversão; na incompetência, preguiça e corrupção generalizadas dos serviços públicos; na cumplicidade das Polícias e de juízes com o crime organizado; nas sucessivas traições das políticas para com os cidadãos que os elegeram; na sempre presente vigarice nos negócios, nas vendas, nas transacções, cada um sempre à espreita da oportunidade de "passar a perna ao outro".
É esta a verdadeira dimensão do Brasil, a par da sua imensidão geográfica.



1 Comments:

Anonymous Aldir said...

Sim, o Brasil tem suas riquezas muito mal distribuídas entre a sua população. Há mesmo sérios problemas. A Suíça, sabemos, é um paraíso.

Mas porque será que algo me diz que traçar um paralelo entre os dois países é misturar alhos com bugalhos? Além do tamanho, das nuances e das realidades históricas incomparáveis?

Enquanto sabemos como a história do Brasil, mesmo a recente, se fez aos trancos e barrancos, o que sabemos daquele país tão certinho, conhecido pelo seu chocolate, seus relógios e sua neutralidade - que ficou famosa durante a II Guerra Mundial?

"A Suíça funcionou como tampão entre o Oriente fascista e o Ocidente (França e Reino Unido) liberal. Hitler tinha proposto uma união com a Suíça mas, apesar das idéias ultraconservadoras dos nazis, a Suíça tinha a sua própria idéia conservadora, o que levou muitos historiadores a concluir este fato como a razão para a sua neutralidade".

Neutralidade que permitiu um grande crescimento econômico, dado que jóias, dinheiro etc., eram guardados na Suíça em segredo. O país passou a ser uma pequena potência de materiais "virtuais", de depósitos das potências e também dos subdesenvolvidos. Aceitava antes, sem o menor complexo, sob a fama de neutra, tanto o dinheiro honesto quanto os roubos de ditadores africanos. Tanto a grana do homem de bem quanto a proveniente de assassinatos, genocídios.

Quem não se lembra da piada de que os bancos suíços lavavam mais branco?

Pois é. A Suíça é mesmo um grande país.

sábado, abril 18, 2009 2:35:00 da tarde  

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