CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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quarta-feira, julho 25, 2007

O RESPEITO QUE FALTA

No Brasil, o actual Governo, liderado pelo presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, tem vindo a oferecer ao mundo, ao longo destes 6 anos no Poder, a imagem do pouco respeito que os Brasileiros lhe merecem.
À medida que a presidência se aproxima do fim, em 2009, se não houver jogo baixo, a exemplo do que Hugo Chávez fez na Venezuela, e tão apetecido pela gente que comanda a actual equipa, mais numerosos, ostensivos e inacreditáveis são os exemplos; talvez porque sintam que já pouco mais terão a perder, aos olhos de um Brasil desiludido e (des)enganado, ou, ao contrário, porque pensam conseguir, sabe-se lá por que mecanismos ou por que artimanhas, perpetuar-se no Poder; num caso ou noutro, por falta de nível, por falta de classe, por falta de formação, a muitos níveis: formação cultural, formação educacional de base, na família, formação moral, formação em cidadania, formação cívica, e formação política, de modo muito particular, porque, para esta gente, a política é uma forma perversa de enriquecer, num país de miséria, à custa do trabalho dos outros, pela apropriação injusta, quando não indevida, o que é frequente, dos dinheiros públicos.
A perpetuação no Poder para usufruir dos benefícios e das impunidades que este propicia, sempre foi a sua preocupação, descoberta e denunciada em 2005, quando se conheceu o vasto e profundo esquema de corrupção envolvendo empresários, parlamentares, autarcas, colaboradores e amigos íntimos do presidente; eles roubavam os cofres do Estado para comprar votos da oposição em votações que queriam favoráveis ao Governo. As investigações, já de si superficiais, acabaram na impunidade dos participantes na tramóia. O presidente teve o descaramento de a justificar e desculpar perante um país entre indignado e divertido com tanta trafulhice.
De desrespeito em desrespeito, chegou-se aos dias de hoje.
Falho de preparação em muitos aspectos, e rodeado de incompetentes, arrogantes, e arrivistas a quem teve de pagar facturas por prestação de favores no passado, o presidente Lula da Silva não foi capaz de encontrar soluções para o problema do caótico e inseguro tráfego aéreo do Brasil.
Após uma colisão de aviões, em Setembro do ano passado, em que morreram 154 pessoas, o Governo esquivou-se a responsabilidades, e atirou com as culpas para cima dos controladores de tráfego aéreo. Sem disposição para desempenharem o papel de bode expiatório que, protestavam, não lhes cabia, os controladores vieram à praça pública denunciar os podres do sistema de controlo de tráfego, secundados, logo de seguida, por especialistas nacionais e estrangeiros.
O Governo, mais uma vez sem soluções, em vez de atacar o problema nas suas várias vertentes, reagiu de forma espúria, transferindo controladores, e prendendo alguns dos dirigentes da organização de classe profissional.
Ao longo dos meses, desde o desastre de Setembro, a situação agravou-se por todo o país, pondo completamente a nu o colapso do transporte aéreo brasileiro: aeroportos superlotados, horas e horas de espera sem qualquer informação por parte das companhias transportadoras, centenas de voos com atrasos inadmissíveis e impensáveis, e/ou cancelados, gente de todas as idades e condições de saúde a dormir a monte nas salas de espera e nas salas de embarque, sem qualquer apoio quanto a alojamento e alimentação, nem dos aeroportos, nem das transportadoras. Um desrespeito absoluto e generalizado.
A intervenção das autoridades, nalguns casos ridícula, noutros afrontosa, contribuiu para aumentar o sentimento de falta de respeito de Governo para com os cidadãos.
Face ao desespero e à indignação dos passageiros nos aeroportos, mandaram avançar a tropa de choque.
Perante o pedido do país para que os governantes tomassem decisões, Lula, o presidente, o responsável máximo e soberano pelos actos governamentais dos seus colaboradores, remeteu-se a um impenetrável, incompreensível e desrespeitoso silêncio.
O ministro da Defesa, perante as câmaras de televisão disse que "a crise é emocional", e aproveitou para reivindicar melhor salário por se considerar mal pago (sobre os 154 mortos recentes, nem uma palavra).
O presidente da ANAC (Agência Nacional da Aviação Civil) afirmou que "a crise aérea está muito longe de ser uma crise" (mesmo apesar dos 154 mortos recentes), e foi condecorado com a medalha de mérito Santos Dumont.
A ministra do Turismo, quando lhe perguntaram o que aconselharia aos viajantes para enfrentarem o caos aéreo, respondeu, de sorriso aberto, "relaxe e goze, que depois esquece todos os transtornos" (enquanto isso, famílias choravam os seus 154 mortos).
O ministro da Fazenda explicou que não havia crise, e que o que se observava era um dos efeitos da prosperidade do país (país com a pior distribuição de rendimentos do mundo, depois da Serra Leoa).
Após vários acidentes, milagrosamente sem consequências, a pista principal do mais movimentado aeroporto do Brasil foi fechada para reparação, mas as pressões das companhias aéreas, sedentas de lucro, forçaram a reabertura antes dos trabalhos de segurança contra tempo chuvoso estarem concluídos. Vários aviões sofreram derrapagens, e muitos pilotos se queixaram de dificuldades em controlar as suas aeronaves durante o pouso. As autoridades garantiram que a pista estava em perfeitas condições.
No dia 17 de Julho, um Airbus não consegue travar na pista, debaixo de chuva, e precipita-se contra um prédio de três andares, entreposto de encomendas da sua própria companhia. Mais de 200 mortos, e uma sucessão de silêncios culposos.
A lista das vítimas é divulgada por uma rádio, e não pela transportadora, como competia.
As autoridades não se pronunciam, optam por um indecoroso silêncio.
O presidente da Argentina envia condolências às famílias das vítimas. O presidente do Brasil só o faz três dias depois, enquanto anuncia algumas medidas que deveriam ter sido tomadas há meses.
É referido numa reportagem televisiva que um dos mecanismos de travagem por turbina, o reversor do lado direito, estaria inoperacional. Embora, segundo os especialistas, isso não fosse relevante para explicar o acidente, atribuindo, antes, um grau elevado de responsabilidade às condições da pista e ao descaso acumulado das autoridades, o porta-voz do presidente da República fez um gesto obsceno com os dedos para as câmaras de televisão, como sinal de gáudio porque, pensava ele de forma precipitada, estaria, assim, ilibada de qualquer responsabilidade a actuação (por omissão) do Governo.
Nesta mímica arruaceira e ordinária em público do porta-voz do presidente, e no que ela comporta de subjacente, se tem uma amostra da categoria do elenco deste Governo presidencialista.
Num país civilizadamente governado, qualquer dos comportamentos atrás mencionados teria sido mais do que razão para que aos seus autores se aplicasse um imediato e aplaudido afastamento do Governo e de qualquer cargo público. No Brasil, não. No Brasil os governantes faltam ao respeito aos cidadãos com o mesmo à-vontade e impunidade com que se governam, às claras ou às escondidas, com os dinheiros que os contribuintes todos os dias entregam ao Estado para que este lhes melhore a qualidade de vida.
E o chefe dos governantes, avalizando com o seu silêncio essa escola de carácter, finge que ignora, e deixa passar. Desrespeitosamente.



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