CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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quinta-feira, fevereiro 01, 2007

ALGUNS DOS MUITOS JOGOS DE CINTURA DO PRESIDENTE DO BRASIL

Ao longo dos primeiros quatro anos de mandato presidencial, o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva mostrou do que é capaz (e do que não é também).
A seguir mostram-se alguns "dito-por-não-dito", alguns "faz-de-conta" a que chamamos "golpes de cintura" ou "gingados" do presidente.
Primeiro gingado: Quando, pouco depois das eleições legislativas de 2006, os líderes dos 594 parlamentares (513 deputados federais e 81 senadores) propuseram e aprovaram à margem da Lei um aumento de 91% dos seus pares, traduzido em mais de 100 mil reais por mês (37 mil euros) contra o aumento de 7% do salário mínimo com que tenta sobreviver grande parte da população (menos de 130 euros), o presidente Luís Inácio Lula da Silva foi questionado pela imprensa sobre o assunto.
Numa cara de constrangimento e sem saída, obrigou-se a falar, dizendo como desculpa, que os três Poderes (Legislativo, Executivo e Judicial) são independentes e que, portanto, o presidente nada poderia fazer. "Cada um que assuma a responsabilidade pelas suas decisões". Ponto final.
Entretanto, aproximam-se as eleições para a presidência da Câmara dos Deputados. O actual presidente vai ser corrido da cadeira. De seu nome Aldo Rebelo, é membro do PC do B (Partido Comunista do Brasil), um partido lambe-botas do PT (Partido dos Trabalhadores), aquele a que o presidente da República pertence.
Esquecendo agora que os três Poderes são independentes, Lula da Silva declara publicamente o seu apoio a Aldo rebelo para a presidência da Câmara dos Deputados.
Tenta desta forma apresentar uma imagem de coerência, já que sempre mostrou ser Aldo Rebelo o seu favorito, desde as últimas eleições para a Câmara.
Mas, acima de tudo, apesar da fraca expressão popular e parlamentar do PC do B, ele não quer perder o seu apoio ao longo dos quatro anos de governação que lhe restam. Mais ainda, e, talvez, principalmente, não quer agitação de rua nos quatro anos de governação que lhe restam.
Entretanto, nos bastidores, Lula da Silva manobra de modo a poder libertar verbas destinadas à Oposição, numa manifesta compra de votos para o candidato apresentado pelo PT, o seu partido.
Não falta dinheiro; o que falta é vergonha, ética e sentido da Política.
Segundo gingado: Em 2006, apesar de proclamar, sempre que lhe convém, a independência do Legislativo face ao Executivo, e vice-versa, o presidente Lula da Silva, escudado na tradicional e instalada preguiça dos parlamentares, que ganham muito (acima de 100 mil reais por mês, cerca de 37 mil euros) e fazem pouco (três dias por semana, com cerca de cinco meses de ausência dos plenários, por férias, fins-de-semana e feriados) teve a iniciativa e a aprovação de 70% das medidas legislativas.
Para quem defende a independência dos Poderes, parece demasiada intromissão. Preocupante, se pensarmos no exemplo do seu colega e amigo do peito, o venezuelano Hugo Chávez, que já governa por decreto, por cima do Parlamento.
Se Lula da Silva quisesse imitá-lo, por certo não teria oposição parlamentar de maior. Os "representantes do Povo" no Brasil nada mais representam que os seus interesses pessoais. "Qual é o preço, Presidente?".
Terceiro gingado: Para mostrar serviço em 2007, início dos últimos quatro anos de mandato, o presidente Lula da Silva apresentou, com pompa e circunstância, aquilo a que chamou de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Trata-se de um documento com 20 itens, que economistas, sociólogos, analistas da política e outros especialistas remeteram para o caixote do lixo por entenderem não corresponder, não poder corresponder, aos interesses nacionais, nem estar gizado de modo a alcançar os objectivos que se propõe. Alguns dos técnicos que o analisaram deram o parecer de que se trata de um conjunto de intenções que ninguém pode garantir que vá para a frente, nesta ou noutra conjuntura. E muito menos se tratará de um programa.
Da palavra à acção passaram as forças sindicais que entraram na Justiça com uma acção conta o PAC, na vertente em que ele pretende utilizar de 5 a 7 bilhões de reais (1,85 a 2,59 bilhões de euros) do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), uma espécie de fundo de pensões dos trabalhadores, para constituir um fundo de infra-estrutura (saneamento básico e coisas afins).
Duplamente desconfiados quanto a um prometido retorno e quanto a uma aplicação das verbas para os objectivos anunciados, os sindicalistas não se esquecem de que no primeiro mandato (2003-2006) o novo avião presidencial custou mais do que as verbas aplicadas em saneamento básico.
Dos esgotos do Brasil, 80% são despejados directamente nos rios, sem qualquer tratamento.
Em algumas potências ricas e desenvolvidas do mundo não há avião presidencial.
Daqui se tirem as conclusões decorrentes.
Quarto gingado: O Brasil foi o grande promotor, e anfitrião, do 1º Fórum Social do Desenvolvimento, uma reunião periódica dos países mais pobres para tentarem estabelecer estratégias que minorem a sua pobreza, em diálogo possível ou confronto possível com os países mais ricos.
Lula foi sempre um caloroso defensor destes encontros e nunca faltou a nenhum deles.
Este ano o Fórum realizou-se em Nairóbi, capital do Quénia. Pela primeira vez, Lula não esteve presente. Preferiu a reunião dos mais ricos, em Davos, na Suíça, em que num discurso para rico ouvir pediu aos países pobres "que deixassem de chorar misérias". A frase pode ser equívoca no conteúdo, mas é muito elucidativa no percurso de Lula, desde os tempos em que ele era a bandeira que os pobres hasteavam.
Quinto gingado: Lula conseguiu o mesmo que George W. Bush nas últimas eleições: poucos gostam dele, mas conseguiu eleger-se.
Com tantos jogos de cintura, será que um dia destes Lula da Silva não conseguirá mais endireitar a coluna vertebral?



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