Corrupção e violência são as duas faces da mesma moeda corrente no Brasil.
Uma moeda de grande núcleo estrelado, onde em cada uma das pontas se lê fome, doença, analfabetismo, falta de abrigo decente, ausência de espírito de serviço no comércio, irresponsabilidade na função pública, para falar só dos mais visíveis.
Gerindo esta moeda no seu próprio e único interesse, está uma classe política caracterizada pela imoralidade e pela impunidade.
Há quem chame à imunidade parlamentar "impunidade para lamentar".
Mais do que uma classe, é uma corporação em que os seus membros vão-se mutuamente perdoando nas votações plenárias, desfecho ridículo, revoltante e dramático dos processos movidos pelas Comissões de Inquérito e pelas Comissões de Ética, umas e outras a caminho do descrédito total e permanente.
Todos iguais, iguais a si mesmos, são denunciados nos jornais, nas rádios e nas televisões.
Sem vergonha, choram lágrimas de crocodilo e mentem de forma obscena durante os julgamentos. Riem, ufanos e venais, quando festejam as sucessivas absolvições, muitas delas concedidas a crimes confessados.
Entretanto preparam as novas eleições, para Outubro, onde perpetuarão as tramóias há muito começadas.
O povo, o povão, esse espanta-se, depois encolhe os ombros aos primeiros sinais de conluio para o perdão dos crimes, e instala-se nas suas novelas, nos seus futebóis, nos seus carnavais, nos seus fins-de-semana prolongados para esquecer os tormentos que a si mesmo deixa infligir.
Nos intervalos bebe mais uma cerveja.
De memória curta, o povão vai dar os próximos votos aos mesmos, a troco de uma camiseta, de um saco de cimento, de meia dúzia de tijolos, ou de um cheque (nem sempre com provisão).
Desistindo da coisa pública, é do seu próprio destino que desiste.
Por isso, este país de fortunas colossais é o pior do mundo em distribuição de rendimentos, fora a Serra Leoa.
Enquanto assim for, a corrupção e a violência continuarão a ser as duas faces da mesma moeda, a única válida nesta terra, moeda que dá pelo nome degradante de miséria.