Imagino que os brasileiros não gostarão de ser tidos como trafulhas, mas a verdade é que o são, com a devida ressalva das raras e honrosas excepções. No entanto, é bom lembrar às excepções que a responsabilidade dessa imagem também lhes pertence, na medida em que não confrontam os seus concidadãos com a necessidade de mudar de hábitos.
"Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele", diz o ditado. Portanto, quem não quer ser chamado de aldrabão que não se comporte como tal.
Cenas vexatórias se passam todos os dias no estrangeiro, envolvendo brasileiros. A mais recente que conheço ocorreu num supermercado dos EUA, onde entrara uma pequena excursão de brasileiros acabados de chegar ao país. De repente gera-se uma confusão e verifica-se que houve um roubo. Logo o gerente aparece aos gritos de "onde estão os brasileiros, onde estão os brasileiros?".
Muitos outros testemunhos, privados e públicos, me têm chegado sobre a desonestidade generalizada deste povo.
Mulheres brasileiras que se correspondem com europeus perguntam umas para as outras: "quanto vais esfolar ao gringo?". Gringo, aqui, é todo o estrangeiro; desgraçado do gringo que vá atrás dos sorrisos convidativos e dos ademanes sedutores destas mocinhas... Sei de uma caso de uma delas que inventou uma avaria fatal no computador rudimentar que possuía, para que o gringo lhe oferecesse um computador novo, de topo de gama.
Tais denúncias públicas não devem ofender o brasileiro, mesmo o honesto.
O que o brasileiro tem de fazer é mudar o seu comportamento, para que a sua imagem também mude.
O primeiro passo para mudar o comportamento é ver e sentir o que há de errado nele. Depois, reconhecer o erro.
Foi o que fez um livro de História para o 7º ano de escolaridade, adoptado no Recife, da autoria de Cláudio Vicentino e editado pela Scipione.
Nele se conta uma historieta em quadradinhos (chamados quadrinhos no Brasil), sobre uma família europeia que parte para o Brasil em busca de melhor vida, atraída pela publicidade de cartazes e panfletos brasileiros.
Mas, uma vez instalados no país, verificam, desiludidos e revoltados, que as promessas feitas se transformaram em trabalho escravo.
A pequena estória, para além de chamar a atenção dos estrangeiros para o "conto do vigário" (sic) que se pratica nesta terra, termina o episódio sublinhando que muitos países, na defesa dos interesses dos seus cidadãos, proíbem a emigração para o Brasil.
Aqui fica, para que conste, mais este aviso insuspeito, um alerta a todos os incautos e desprevenidos, eventualmente ofuscados pelo sol e pelas belezas divulgadas nos postais ilustrados, muitos deles, também, uma mentira.