CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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terça-feira, maio 09, 2006

A GALINHA DOS OVOS DE OURO

Toda a gente conhece a história... bem... este "toda a gente conhece" pode tornar-se ofensivo para quem não conhece, mas, em contrapartida, talvez sirva de estímulo para querer conhecer e conhecer mesmo.
Portanto, toda a gente conhece, se não já, daqui a pouco, a história da galinha dos ovos de ouro, uma abençoada galinha que todos os dias, sem excepção, sem olhar a sábados, domingos, feriados nacionais, regionais ou municipais, dias santos de guarda, pontos facultativos, greves de zelo, de fome ou de asas caídas, todo o santo ou danado dia punha o seu ovo de ouro no caixote de palha do galinheiro.
O dono, um fazendeiro já podre de rico (e não só disso, como veio a verificar-se) mercê dos ovos que a generosa galinha lhe oferecia a troco de uma bagatela de milho e água limpa, cego de ambição, e, ao que parece, sem qualquer outro objectivo pessoal ou colectivo que não fosse satisfazer essa ganância, sem qualquer projecto que não fosse arrecadar mais, ser mais e mais rico, resolveu explorar a mina até às suas últimas consequências, isto é, matar a galinha para lhe sacar os ovos todos de uma vez.
Depois de a ter degolado, aberto, e de nada ter encontrado dentro dela, não valeu a pena ter-se arrependido, pois perdeu para sempre a galinha e a sua provisão diária de ovos de ouro.
Esta a estória que quase toda a gente já conhecia, e que quem ainda não conhecia, mas estava quase, agora já conhece.
De algum modo e com as devidas reservas, ela está sintetizada no velho provérbio português "quem tudo quer, tudo perde".
Mas a prática deste fazendeiro, apesar de desastrosa, continua a ter muitos seguidores, pelo menos no Brasil. Gente que, movida por pretensões não sustentadas, dá um passo maior do que a perna, e acaba por estatelar-se.
Dar com os burrinhos na água não faz mal, desde que não passe disso e, ao mesmo tempo, sirva de lição.
Mas o pior é que, geralmente, os burrinhos levam às cavalitas familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, fornecedores, clientes, enfim, toda uma multidão que, ingénua e inocentemente, vai também parar à água, enquanto o condutor dos burricos trepa pelas costas dos afogados para se pôr a salvo.
Todas estas metáforas brincalhonas têm por base a angústia de quem nunca sabe no Brasil com que tipo de serviços pode contar, sejam eles públicos ou privados.
Aqui toda a gente mata a galinha dos ovos de ouro, no sentido de que uma qualidade prometida e conseguida durante algum tempo é subitamente desvirtuada por ambições desmedidas.
Um fabricante oferece-me um produto de qualidade. Quando já estou habituado a ele, substitui-o por outro de qualidade inferior e maior custo. Matou a galinha.
O assassinato multiplica-se e potencia-se em cascata.
O fabricante passa este estilo aos vendedores, que o passam aos revendedores grossistas (atacadistas, no Brasil), que o passam aos comerciantes nos hipermercados, nos centros comerciais (shoppings, no Brasil) e nas lojinhas de bairro.
Assim no comércio, assim na indústria, assim na agricultura e na pecuária, assim nas pescas, assim no ensino, assim na informação, assim no turismo, assim na política, assim nas relações interpessoais, assim no Brasil.
Assim se vão extinguindo as galinhas dos ovos de ouro.
Quanto aos ovos arrecadados, andam aí por mercados paralelos, mas há quem reclame e, por isso, clame que estão contagiados por certos tipos, perdão, por certos tifos chamados salmonelas. Ou será salmão e elas?...



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