No dia 7 de Setembro o Brasil comemorou a data da sua independência.
Mas será que um país que vive na corrupção permanente, da base às mais altas instâncias, poderá afirmar-se independente?
"O Brasil não é um país sério". Tanto quanto se sabe, esta foi a primeira afirmação pública sobre o assunto, atribuída já há algumas décadas, nos anos 60, ao general Charles de Gaulle, presidente da França, quando por aqui passou e se demorou algum tempo. Há quem afirme que sim, há quem garanta que não. Mas, recentemente, foram feitas afirmações semelhantes por um chefe de Estado da América latina.
Cá dentro, há cerca de um ano, um conceituado escritor e jornalista disse a uma rádio que o entrevistou que o brasileiro é desonesto, todo o brasileiro, seja rico ou seja pobre.
No meu dia-a-dia encontro gente que confirma estas declarações, por vezes de forma bem mais desabrida e desinibida, em Português vernáculo. Dos Poderes Públicos, o silêncio de quem sabe que não pode contestá-las, porque as provas são mais que evidentes.
No ano passado, um apresentador de noticiário de tv, à noite, um jornalista respeitado no meio, referindo-se à frase supostamente de de Gaulle, ainda foi dizendo, embora a meia boca, que não era bem assim, que o Brasil era um país sério. Tentou, a seu modo, salvar a honra do convento, neste caso, a honra do país, mas ninguém o aplaudiu, nem, sequer, o acompanhou.
Na verdade, o Brasil não é um país sério – e é, isso sim, um paraíso para os "não-sérios", ou seja, a malandragem, tanto a que vem de fora, como a que já cá se encontra.
Os factos são aquilo em que as certezas se apoiam. Vejamos os factos:
Quem faz o Brasil são os brasileiros – o povo e os dirigentes, as instituições laicas e religiosas, as organizações não governamentais e as estatais.
Se as instituições não forem sérias, darão o exemplo facilmente (e auto-justificadamente) seguido pelas populações que pretendem, de pleno direito, sair da miséria em que vivem.
Assim, tudo fica contaminado.
As relações políticas.
Os quatro anos de governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva foram caracterizados
- pela corrupção generalizada:"do servente ao presidente, é tudo a mesma gente";
- pelo assalto aos cofres públicos, feito pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o partido do presidente;
- pela lavagem de dinheiro feita pelo mesmo PT através de uma rede de empresas de publicidade de um tal Marcos Valério que, apesar de todas as confirmações de envolvimento no esquema, nunca foi preso;
- pelo programa chamado "mensalão", que consistiu no pagamento de avultadas verbas a deputados da oposição, para que votassem favoravelmente as propostas do Governo;
- pela extorsão feita pelos dois anteriores presidentes da Câmara dos Deputados a empresas e organizações, em troca da concessão de benefícios;
- pelo escândalo dos "vampiros", políticos que recolhiam dinheiro da sobrefacturação da compra de hemoderivados, especialmente destinados a hemofílicos e portadores do vírus da SIDA/AIDS;
- pelo escândalo dos "sanguessugas", políticos que recolhiam dinheiro da sobrefacturação da compra de ambulâncias para as autarquias;
- pelo recebimento, abafado, de dinheiros do exterior, ilegal, para campanhas políticas, incluindo as presidenciais de Lula da Silva;
- pela abertura no exterior de contas em paraísos fiscais; a imprensa acusa o próprio presidente, o seu dilecto amigo Thomaz Bastos, ministro da Justiça, o presidente do Banco Central, e outros compinchas partidários ou prestadores de serviços ao Governo;
- pelas desconcertantes declarações de Lula da Silva, afirmando, primeiro, que nada sabia da corrupção (quando era o seu partido e os seus mais próximos colaboradores a praticá-la), mais à frente dizendo que tais práticas existem em todos os partidos (tentando tornar natural uma fraude), e, finalmente, defendendo que essa corrupção sempre existiu (procurando legalizar uma ilegalidade); o mesmo Lula, presidente da República, que canta de alto que todos os prevaricadores serão punidos, enquanto todos eles são, sistematicamente, absolvidos; o mesmo Lula que se "orgulha" de que o seu Governo "não rouba nem deixa roubar";
- pelas contas pagas pelos contribuintes, muitas com facturas falsas, a Lula e seu séquito – mulher, filhos e outras companhias;
- pelo chamado "esforço concentrado", um plano que pretendia pôr os deputados, pagos principescamente, a trabalhar em projectos de urgência, e que se saldou no seu vergonhoso absentismo (70 presenças em 513 eleitos);
- pela falta ao serviço, não justificada e não apurada, dos servidores da Câmara e do Senado que, a pretexto da ausência dos políticos, em plena campanha eleitoral, se escusam ao trabalho, apesar de se pagar, em média, 6000 reais (um euro vale, aproximadamente, 2,8 reais) por mês, por servidor, num total de dois milhões por ano.
Toda esta imaginativa rapaziada anda à solta , e, mais do que isso, se candidata às novas eleições (em Outubro próximo). Apesar das cerca de 2000 impugnações de candidaturas feitas pelo Tribunal Eleitoral, a maioria da corja prepara-se, a coberto da má memória e da iletracia do povão, para sacar e saquear, num fartar vilanagem de mais 4 anos.
As relações económicas e financeiras.
Os quatro anos de governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva foram caracterizados
- pela fraude fiscal generalizada;
- pela utilização ostensiva de facturas (notas fiscais) falsas, aqui chamadas "notas frias", que alimentam muita gente, incluindo a presidência da República (presidente, mulher do presidente, amigos do presidente, governantes do presidente);
- pela distribuição dos rendimentos, a segunda pior do mundo, só ultrapassada pela Serra Leoa, um país perdido na África, com 10 anos de guerra civil recente, com amplitudes só existentes em países do terceiro mundo onde prevalece o compadrio e a corrupção é senhora e lei;
- pela taxa de juro mais elevada de todo o planeta, da ordem dos 144% (cento e quarenta e quatro por cento) ao ano;
- pelo encerramento de inúmeras fábricas, com falências fraudulentas ou provocadas pelas assimetrias salariais dos Estados da União;
- pela isenção de impostos a quem tem mais obrigação de os pagar;
- pela evasão ilícita de divisas para o estrangeiro, onde foram alimentar contas de políticos, alguns de proeminência na condução dos destinos do país, e de empresários, geralmente ligados ao ramo da publicidade e do marketing, curiosamente, todos eles fornecedores de serviços (sobrefacturados) ao Governo;
- por um superávit primário espectacular, à custa do bloqueio de verbas orçamentadas para o desenvolvimento do país.
As relações pessoais, familiares e sociais.
Os quatro anos de governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva foram caracterizados
- por um número surpreendente de 1700 padres acusados de crimes sexuais;
- pelo aumento das agressões (registadas oficialmente) a mulheres e a crianças;
- por aumento substancial da criminalidade sob a forma de assaltos (a pessoas, casas e instituições), estupros, sequestros e assassinatos (alguns deles por brigas de trânsito);
- por aumento de consumo de álcool e drogas;
- por um aumento generalizado da corrupção entre as forças policiais;
- por uma progressiva influência sobre o comportamento social exercida por facções criminosas que comandam o crime organizado do interior das cadeias, através de telemóveis (aqui chamados celulares) e de advogados que pertencem a essas mesmas facções;
- por escândalos no "desporto" futebol, com árbitros comprados para fabricarem resultados, e estrelas a não se esforçarem no campeonato mundial para não contraírem lesões e não ficarem inactivas nas equipas europeias onde ganham fortunas;
- por desvio, para outros fins, nem sempre muito claros, de grande parte das verbas destinadas anualmente à segurança pública;
- pela constatação de que os bandidos estão mais bem armados do que as forças da ordem;
- pela instalação nos cidadãos do sentimento de que o crime compensa, porque a impunidade, em todos os patamares, é uma garantia adquirida pelo criminoso.
Todo este leque de misérias tem a mesma causa: a falta de seriedade na condução dos negócios públicos e, por arrastamento, dos privados.
O poder corrupto instalou-se em todas as vertentes de decisão, e boicota o trabalho dos que pretendem um Brasil diferente – um Brasil independente.
Talvez daqui a alguns anos, se for possível impedir o acesso aos órgãos dos três poderes do Estado dos que se servem desses órgãos em benefício próprio e exclusivo, se consiga ter um país sério. Até lá, muito há para varrer e limpar.
A seriedade constrói-se, não com gostos, desejos ou intenções, mas com factos e realidades – e o que os factos e as realidades mostram é que o Brasil não é um país sério.
Perante isto, a pergunta que se me coloca é: poderá sentir-se independente?