CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

Locais e ambientes, pessoas e costumes, histórias, curiosidades e acontecimentos.

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terça-feira, março 21, 2006

BIGORNA DO INFERNO

O Outono está quase a começar.
Ilusão. Aqui não há Outono. Aqui não há quatro estações. Uma estação seca e uma estação húmida marcam o compasso binário de cada ano.
Não caem folhas. As árvores não se despem. Não sopram ventanias, não há ameaças de frios, nem, muito menos, de geadas.
As neves são apenas imagens, recordações, ou desejos.
O calor impera. Corrói a vontade. Modela os actos.
O calor seca o ânimo. Acende o fogo da sede. Desfaz o ímpeto de fazer. Traz o sono à tarefa.
O calor morde. Morde no corpo e na alma. A alma amolece. O corpo é obrigado a resistir.
A temperatura não cede. Mais de 33 graus durante o dia, 28 graus às duas da manhã.
É assim o dia de todos os dias. Todas as horas do dia.
Todos os dias de manhã à noite.
Todos os dias e noites dos dias todos do ano.
O bafo quente da noite traz a promessa cumprida duma bigorna acendida, perpétua, p'ra toda a gente, tenha ou não tenha a guarida duma pouca de água fresca, inventada ou percebida.
Esboços de poemas nascem deste calor, tropical em demasia.
O cansaço do dia-a-dia esmaga o que resta ainda da vontade de escrever.
O suor pinga, escorre e cai, sempre, constante. Lágrimas convulsivas, sem choro, mudas, sem queixas, gritantes, ácidas, corrosivas.
Suor, suor, suor. Segunda pele.
Mesmo assim, regado, o corpo funde-se sem qualquer compromisso de regresso.



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