CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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sexta-feira, dezembro 02, 2005

NEM CAMISA, NEM CONCERTO

Estamos já no mês de Dezembro. Mal damos por isso, o Natal chegou, trazendo-nos um dos momentos mais empolgantes do ano.
A decoração festiva do ambiente nos lares, nas áreas de trabalho e nos espaços públicos, fechados ou abertos, facilita, quando não induz mesmo, no interior de cada um o despertar da magia própria da época.
Os privilegiados do planeta afadigam-se a preparar as suas festas de Natal.
O Vaticano, um dos grandes privilegiados da Terra, prepara também a sua, a primeira, desde que o novo hóspede, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, herdou a cadeira de São Pedro com o cognome de Bento XVI.
A festividade, a realizar amanhã, sábado dia 3, constituirá uma homenagem a São Francisco Xavier, padroeiro das Missões, abrindo, assim, o ano Xavierano.
Convidados os artistas, os ensaios progrediram, cada um a dar o melhor de si, procurando corresponder às expectativas, e merecer, mesmo não falando de honorários, pelo menos o prestígio e a projecção mundial que o espectáculo proporcionará, o que já não é pouco para a carreira dos artistas participantes.
Ensaios e mais ensaios era o que fazia, até há pouco tempo, Daniela Mercury.
Natural de Salvador, capital do estado brasileiro da Bahia, a cantora de 40 anos, sucesso no Brasil e na Europa através de Portugal e da França, fora convidada pelo Vaticano para actuar na festa de Natal.
A única brasileira convidada em 13 anos, a idade do evento, tinha tudo prontinho para partir para Roma em 28 de Novembro, levando consigo os pais e a avó, uma velhinha de 96 anos.
Poucos dias antes o Vaticano cancelou a apresentação de Daniela.
Apesar de católica (começou a cantar na igreja), embaixadora do programa da ONU UNAIDS, contra a SIDA/AIDS, embaixadora da UNICEF há 10 anos, embaixadora da UNESCO há 6 anos, representante do Instituto Ayrton Senna, Irmã da Santa Casa da Misericórdia, membro do Young Global Leaders, e membro do Conselho da Bolsa de Valores Sociais da BOVESPA, o Vaticano não hesitou em cortá-la do espectáculo.
Segundo Daniela Mercury, a sua assessoria e alguns colunistas, a exclusão ficou a dever-se à participação da cantora num filme publicitário que defendia a utilização do preservativo para a prática de sexo seguro. Indignada com a decisão do Papa, Daniela reiterou o seu respeito à Igreja Católica, mas manteve a sua posição quanto ao preservativo como meio de suster a propagação da SIDA/AIDS, tanto mais que no Brasil, o seu país, os índices são elevados.
A razão estava com ela nessa argumentação, e desde logo se é levado a pensar no comportamento reaccionário da Igreja sobre o assunto.
Já o anterior Pontífice, João Paulo II, provocara extensas e profundas polémicas sobre planeamento familiar, por um lado, e doenças sexualmente transmissíveis, por outro, ao afirmar a oposição frontal e firme da Igreja ao uso do preservativo.
Mais conservador ainda, segundo alguns, o seu sucessor, Bento XVI, que ocupou o lugar de maior destaque na autoritária e retrógrada herdeira da Santa Inquisição, ele próprio o principal conselheiro de João Paulo II, naturalmente não iria abrir mão de um princípio tão severamente defendido pela doutrina católica.
E as coisas ficariam por aqui, entre as críticas da opinião pública ao Vaticano, e a consternação e a raiva da cantora e dos seus músicos.
Mas o "Jornal da Mídia" e o jornal "A Tarde", ambos com portais na Internet, dizem que não foi bem assim.
O anúncio protagonizado por Daniela Mercury data do Carnaval deste ano, e o convite do Vaticano é de Agosto, seis meses depois. Bem informada como habitualmente está, custa a crer que a Santa Sé não tivesse conhecimento do trecho publicitário quando formulou o convite. Provavelmente preferiu ignorá-lo, fosse pela avaliação do saldo entre os prejuízos para a Fé e os prejuízos para a saúde da população brasileira, o que é pouco provável, mas, enfim, admitamos, fosse pela qualidade curricular da cidadã e artista Daniela Mercury, fosse, até, por outro qualquer motivo, filho de uma qualquer das possíveis e insondáveis estratégias do Vaticano.
Parece, pois, que o anúncio não foi a razão principal do corte.
Segundo os órgãos de informação acima referidos, em Setembro, pouco depois do convite papal, Daniela concedeu uma entrevista ao "Fuxico", jornal de fofocas do sul do país.
Aí teria declarado que iria pedir ao Papa para "adoptar a camisinha".
"Você é um Papa moderno, tem de entender a necessidade! (da camisinha)".
E, ao que parece, fora mais longe, ao prometer que faria oferta a Bento XVI de um livro "com uma camisinha dentro".
O jornal "A Tarde" garante que "segundo fontes da Santa Sé, a brincadeira teria custado a participação da cantora".
A ser tudo verdade, estranhar-se-ia se o Vaticano não tivesse reagido dessa forma.
A cantora e a respectiva assessoria negam tudo.
Entretanto, as páginas da Internet onde se encontrava a entrevista, ou partes dela, no "Fuxilo", no seu colega "Babado", no "Jornal da Mídia" e no jornal "A Tarde" desapareceram. Isto prova que alguns tipos de influência funcionam como pressão censória de quem se sente incomodado, e que a liberdade de imprensa ainda é um mito, mesmo nalguns países de Constituição democrática.
O empolgamento de certas vedetas frente à comunicação social é, muitas vezes, um tiro pela culatra que lhes sai caro, principalmente quando elas têm um histórico de "jeito moleque e irreverente de se comportar", como está expresso na biografia constante do portal da artista.
Em determinadas circunstâncias, casos de incontinência verbal, por exemplo, a língua e a garganta dos cantores devem estar ao serviço da voz que canta. E só. Se assim não for, se a cabeça perder o controlo dos actos e da prosa, as consequências podem ser dolorosas. Sem direito a indignações.



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