Leucemia é a designação para certos tipos de cancro (ou câncer, usando a terminologia do Brasil) originados nos tecidos da medula óssea que produzem o sangue.
A doença impede a produção normal de glóbulos brancos eficazes, que não amadurecem de modo a poderem desempenhar as suas funções, funções de defesa do organismo contra ataques infecciosos. Em contrapartida, estes glóbulos multiplicam-se e tomam o lugar dos glóbulos vermelhos e das plaquetas sanguíneas (células que ajudam na coagulação do sangue).
A progressão da doença conduz à morte. A esperança de a evitar consiste num transplante de medula óssea, a partir de um doador compatível.
Este tipo de cancro que atinge 30% dos que se observam em crianças, com um grau de incidência de 1/25000, manifestou-se num bebé da pequena cidade de Conselheiro Lafaiete, estado de Minas Gerais, no interior do Brasil.
O caminho a seguir seria o transplante de medula. Verificou-se, porém, que nenhum dos familiares próximos era doador compatível. Alguns cidadãos, ao tomarem conhecimento dos factos, organizaram, então, uma campanha para angariar possíveis doadores, entre os pouco mais de 100 mil habitantes da cidade.
A notícia, bem diferente dos sequestros a figuras conhecidas, assaltos a residências de luxo, ou assassinatos violentos que monopolizam grande parte dos tempos de antena de rádio e de televisão, e das páginas de jornal, quase passou despercebida. Nos grandes meios, mereceu apenas uma rápida referência, sem aprofundamento e quase sem detalhes, por parte de uma rede de TV. Na Internet nada se encontra sobre o assunto. Só o jornal local, o "Correio da Cidade", vai publicar uma reportagem, no próximo sábado.
Parece que o sofrimento é um dos principais elos entre as pessoas, aquilo que é comum a todo o ser humano, mais do que a felicidade.
O sofrimento, tanto o próprio como o alheio, induz um desconforto que propicia a reflexão sobre a natureza do ser humano, o sentido da vida, e os eventuais destinos de cada homem e mulher.
Todos queremos ser felizes, e é o sofrimento que nos impulsiona para a busca da felicidade. Sem sofrimento já experimentado, a felicidade, ou qualquer momento de felicidade dos que conseguimos alcançar, não faria sentido.
Por outro lado, é, também, a experiência do sofrimento que dá lugar à solidariedade, algo que começa num sentimento de empatia para com quem sofre, e termina num conjunto de acções que visam acabar com o sofrimento.
Aí se desfazem as fronteiras ideológicas, filosóficas, religiosas, políticas, se diluem os preconceitos de etnia, de cor de pele, de sexo, de estatuto social, se esquecem as rivalidades, as afrontas, as raivas, os ódios.
A solidariedade impõe a sua regra: esquecer o passado para resgatar a pessoa ou o grupo do sofrimento do presente.
Foi o que aconteceu na cidadezinha de Conselheiro Lafaiete, onde os pais do pequenino com leucemia esperavam a oferta de 500 potenciais doadores. Apareceram 1500 duma vez no espaçoso ginásio da terra. Pouco depois o número subiu para 3000, e acabou por chegar a mais de 12 mil.
Da História da vida ainda tão curta daquele bebé faz parte já uma extensa corrente de solidariedade, talvez a maior, até agora, da sua cidade natal.
Este exemplo quase não divulgado pela comunicação social, preterido para a realidade dura dos homicídios, estupros, roubos, corrupção na política e nas empresas públicas e privadas é um exemplo de esperança de que, para além do discurso mentiroso e hipócrita de quem governa este país, ainda há valores mantidos incorruptos pelo povo brasileiro, tão sofrido, e, por isso mesmo, tão sabedor do que vale a solidariedade.