CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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terça-feira, novembro 08, 2005

CHEGOU BUSH PARTIU

Não se pode dizer que Bush esteve no Brasil. Chegou no sábado 5, à noite, e partiu no domingo 6, à tarde. Para uma primeira visita oficial ao país, foi escasso o tempo que disponibilizou. Menos de 24 horas.
Agenda apertada? O Brasil não merece o seu tempo? Tem medo de permanecer no Brasil?
Referindo-se à viagem, a edição electrónica da britânica
Times apresenta, assinada pelo editor americano Gerard Baker, em 3 do corrente, uma matéria sob o título "Bush penetra no país dos bandidos". E Bush, como num mergulho, penetrou e escapou-se depressa.
Na véspera, na Argentina, decorrera a 4ª Cúpula das Américas, onde 34 Chefes de Estado deste continente se reuniram na cidade de Mar Del Plata.
Apesar da ausência do presidente da República de Cuba, Fidel Castro, que não foi convidado, nem por isso os protesto anti Bush foram menores, mesmo dentro do plenário.
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, anfitrião do encontro, criticou sem reservas alguns pontos fundamentais da responsabilidade de Bush no estado de pobreza da região central e sul. E foi aplaudido.
Enquanto isso, nas ruas, Hugo Chávez, o polémico e controverso presidente da Venezuela, e arqui-inimigo de Bush, dirigia, entre vaias e palavrões contra os EUA, o coro de milhares de manifestantes que queimavam bandeiras e bonecos representando o presidente dos
States.
A Cimeira terminou sem resultados quanto ao que se pretendia discutir e decidir.
Os tão esperados temas da criação de emprego e da distribuição de renda foram substituídos por outro, mais do interesse imediato de George W. Bush, a ALCA, Área do Livre Comércio das Américas.
Mas nem aqui resultou alguma coisa de consensual. Assessores e diplomatas continuaram as discussões, substituindo os chefes de Estado que, a pouco e pouco, foram abandonando a reunião, alguns deles mesmo antes do seu encerramento oficial, como Lula da Silva, do Brasil, e Bush.
Tudo acabou em acordos bilaterais entre países, ou grupos de países, sem resoluções que abrangessem, ao menos, uma maioria de unanimidade.
Se a ALCA não progrediu, talvez evolua o MERCOSUL, o mercado comum das Américas Central e do Sul, constituído, por enquanto, pelo Brasil, a Venezuela, o Paraguai, o Uruguai e a Argentina.
O México, que privilegiava a ALCA, agora deseja integrar esta comunidade.
Por seu lado, Chávez, da Venezuela, pretende enterrar a ALCA definitivamente.
Quanto a Lula, diz não ser oportuno falar disso neste momento, nas vésperas da Organização Mundial do Comércio (OMC) onde serão ensaiados vastos acordos com parceiros de grande peso, como seja a União Europeia.
Parece, pois, que a discussão sobre a ALCA, a que Bush tanto aspira, seria coisa antecipadamente adiada, por razões e conveniências de vários intervenientes.
A passagem relâmpago do presidente americano pelo Brasil, logo após a fracassada 4ª Cimeira das Américas, aparentemente nada adiantou para a qualidade de vida do povo brasileiro. Povo brasileiro que o recebeu com insultos de "nazi" e "assassino", em violentos protestos que começaram dois dias antes da sua chegada.
Da curta conversa que antecedeu o almoço oferecido por Lula a Bush na Granja do Torto, a casa de campo da presidência, resultou um comunicado conjunto feito de elogios mútuos e lugares comuns, de que sobressai a cooperação nas áreas da Ciência, Educação e Saúde, sem se explicar concretamente o quê, quando e como.
Também aqui nada de novo e relevante se acrescenta à vida do Brasil e, por consequência, dos brasileiros. E será que alguém esperava algo de maravilhoso e espectacular? Por exemplo, Lula será tão ingénuo que tenha insistido num lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, ao som dos petardos dos escândalos de corrupção que todos os dias acrescentam novos dados, sugerindo o seu envolvimento e do seu Governo? Se teve essa coragem, ou "inocência", nada transpirou.
Já para os EUA, não se sabe o que Bush pode ter levado. Os próximos tempos o dirão.
Bush não esteve no Brasil. Tocou, e só muito ao de leve, no Brasil. Mesmo assim, a medo e com medo. Com tanto medo que da sua comitiva de 700 pessoas faziam parte 300 seguranças, entre gente do FBI, peritos antibomba e especialista em guerra química, fora o que não se sabe.
Com esse medo que os ricos têm dos esfomeados, chegou a pedir que toda a zona onde se encontrou e almoçou com Lula fosse passada a pente fino pelos seus homens.
O Governo brasileiro negou.
Na verdade, seria interferência demais. Mas, bem vistas as coisas, revela a imagem de insegurança que o Brasil passa para o resto do mundo. A insegurança que constitui mais um problema, dos mais graves e prementes do Brasil, em que a Administração Lula da Silva se tem mostrado incompetente. E Bush fugiu. Se foi por isso, com toda a razão.



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