CADERNO DE VIAGENS - suplemento de "Aparas de Escrita"

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terça-feira, novembro 15, 2005

VENDAS (E NÃO SÓ) POR TELEFONE

Na maior parte do mundo é usual a prática da promoção de bens e serviços por telefone, olhos postos na venda. Chama-se a isso telemarketing.
Amaciadas por vozes simpáticas e corteses, geralmente femininas, não param as sugestões de convénios para compra de automóveis, apólices de seguros de vida, apartamentos, casas de férias, e as próprias férias.
Tudo se promove, tudo se pode vender e, consequentemente, comprar.
O Brasil não foge à moda que, mais do que moda, é uma exigência da sociedade de consumo neocapitalista. Neste país, a ideia-objecto que em particular se tenta impingir, um misto de produto e serviço que, por sua vez, dá direito ao acesso a outros produtos e serviços, é o cartão de crédito bancário.
Não há banco que não queira "oferecer" o seu. Sem dizer mal da concorrência, usam a táctica subtil de afirmar que esse é o único que dispõe de determinadas vantagens, sempre sedutoras para o cliente, levando-o a pensar que é o melhor.
O cliente é, além disso, convencido de que nada tem a pagar. O cartão é uma cortesia do banco.
A verdade é que a eventual cedência vai sair-lhe cara, porque, para além do endividamento fácil que qualquer cartão de crédito representa para o orçamento pessoal ou familiar, haverá uma posterior campanha de solicitações, quando não exigências, no sentido de abertura de conta, mudança de banco, transferência de capitais, compra de serviços, às vezes, nem sempre, constantes do contrato que o cliente assina quando aceita o cartão. Tudo escrito naquele tipo de letra microscópica para ninguém ler e assinar à confiança.
O processo é rápido e cómodo. Basta fornecer alguns dados e confirmar outros, e o cartãozinho será recebido pelo correio.
Pessoalmente incomoda-me este tipo de abordagem.
Primeiro, porque as horas a que o telefone toca para este efeito são, geralmente, impróprias. Ou de manhã, muito cedo, sempre cedo para quem trabalha de noite, ou à hora de almoço, ou quando se tem um trabalho entre mãos, ou um compromisso urgente, ou é preciso ir levar ou buscar os filhos à escola. Sempre horários inconvenientes.
Perguntarão os interessados quais serão os horários convenientes. Pois é. Por mim, nenhum. Cada um responda de acordo com o seu estilo de vida.
O segundo motivo por que este tipo de aproximação me é desagradável reside na minha aversão visceral a ter a privacidade e a intimidade devassadas. Fico sempre a cogitar como conseguiram o meu telefone e outros dados, como nome, endereço, e tipo de cliente que sou.
Terceira razão, sinto-me violentado e defraudado quando tentam forçar-me a aceitar um presente de grego. Ninguém dá nada a ninguém no mundo dos negócios, e muito menos no das instituições financeiras.
Quarta razão. A insistência em permanecer em minha casa, contra minha vontade, através do telefone mais acentua o efeito de invasão do meu espaço pessoal.
Finalmente, nestes telefonemas eu nunca sei quando se trata de uma verdadeira campanha promocional, ou de uma qualquer vigarice.
Quem ou o quê me garante que é um banco idóneo, uma companhia de seguros reconhecida, ou uma empresa de turismo de primeira classe que se encontra do outro lado da linha?
Todos os dias há notícias de fraudes por telefone, e avisos ao cidadão para que não revele, seja a que pretexto for, dados que o possam comprometer.
O Brasil é um país onde este tipo de fraude está a ser cada vez mais usado. Não é por acaso que a Transparência Internacional, organização com sede em Berlim, atribuiu ao Brasil, recentemente, a nota 3,7 numa escala de 0 (menos honesto) a 10 (mais honesto).
Assim, com todo o respeito pelos honestos cidadãos e cidadãs que trabalham em telemarketing, ao primeiro embate na tentativa de me venderem, alugarem ou darem seja o que for desiludo-os com uma frase curta e clara: "como não sei se você é quem diz ser e representa quem diz representar, ou, pelo contrário, pertence a alguma quadrilha especializada em fraudes por telefone, a nossa conversa vai ficar por aqui".
E fica. Nos tempos que correm nunca se sabe.
Rude? Talvez. Radical? De certeza. Mas foi a única maneira que encontrei de me ver livre de duas pragas: o telemarketing e a teleburla, tanto mais que ambas têm coisas em comum.
Aqui fica a receita para quem quiser aproveitar. Gratuitamente.



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